Trauma e saúde mental: a importância de se cuidar

Por Mariana Vieira Cintra

Pensando na correlação entre um tema e o outro, inicialmente podemos imaginar que alguém que passa por uma situação traumática sofre uma mudança em seu estado emocional e que a intensidade do seu sofrimento será igual para todos que já passaram e também passarão por ela. Isso, no entanto, nem sempre é verdadeiro.

Cada um de nós possui uma maneira de lidar com as adversidades oferecidas pela vida. Suponha um grupo de pessoas que vivenciaram um momento difícil, como, por exemplo, os membros de uma família que perderam um ente querido durante a pandemia do novo coronavírus. Embora triste, isso não é mais uma novidade, certo? No entanto, enquanto para alguns a superação dessa perda será mais tranquila, para outros, poderá ser mais dolorosa e com uma recuperação mais demorada.

Desde o início de 2020, quando as primeiras notícias surgiram e falavam da letalidade do vírus, muitos passaram a encará-las com mais cautela e seriedade, evitando a propagação, contaminação e consequências que poderia ocasionar. Por outro lado, também percebemos um certo descuido e negação dessa situação ameaçadora. Muitas dúvidas surgiram até por não ser possível enxergá-lo, nem pegá-lo com as mãos ou avaliar se está próximo de nós ou não. A COVID-19 realmente existe? É verdadeira mesmo? Ou há alguém querendo manipular informações e controlar nossas vidas? Cada postura que adotamos diante das circunstâncias está relacionada às nossas crenças, aprendizados e experiências anteriores que se acumularam desde a infância até o presente.

Com o passar dos meses, constatamos, sim, inúmeras pessoas que morreram contaminadas, mas ainda assim há como enfrentar os fatos e perceber o impacto dessa nova doença nas nossas vidas de modo diferente. O sofrimento sentido por alguém não é o mesmo vivenciado por outra, ainda que sejam da mesma família. Isso é algo particular, que depende muito da história de vida de cada um e de como enfrentamos os eventos do dia a dia, sobretudo os traumáticos, como o caso aqui citado, que chegam sem pedir licença e costumam trazer consequências negativas, afetando nossa saúde mental.

Esses eventos são reconhecidos com maior facilidade por costumarem ser chocantes e de caráter trágico, como um assalto, acidente de carro, uma perda repentina de um familiar sem doença prévia ou justificável, ou situações de agressões físicas, verbais e sexuais. Mas também podem ocorrer encobertamente e desde muito cedo por meio de interações negativas com familiares, professores, amigos ou colegas, que deixam marcas emocionais e permanecem registradas na memória de quem sofre, provocando dores que podem persistir por muitos anos.

Como consequência, é possível desenvolver pensamentos ruins e negativos sobre si e sobre os outros, apresentar medos, sentimento de impotência e agitação, deixar de acreditar em si, se desmotivar e ter crises de ansiedade por vezes sem causa aparente, mas que prejudicam o desenvolvimento de atividades cotidianas. Pode-se perceber também episódios ou períodos mais longos de tristeza profunda que insistem em permanecer, podendo evoluir para um quadro depressivo. Ninguém gosta de sofrer, perder o controle sobre suas emoções, parecer frágil nem ser julgado por estar assim, razão pela qual muitos passam a omitir seu sofrimento, envergonhados em pedir ajuda. De fato, nada disso é fácil de ser enfrentado e demanda ajuda profissional, mas há tratamento.

A saúde mental é o bem mais importante da vida e são várias as patologias que podem ser desenvolvidas após a vivência de um evento traumático. Não importa quantas nem quais se compreendemos a importância de olhar com atenção e cuidado para cada ocorrência singular e potencialmente traumática. Devemos estar atentos às nossas necessidades básicas, respeitá-las, observar se vêm ocorrendo alterações em nossa maneira de pensar, agir, sentir e se relacionar, independentemente do ambiente em que estamos inseridos.

Cuide-se e observe:

  • se seus pensamentos estão negativos, desesperançosos e inquietos. Se você tem pensado coisas ruins que gostaria de se livrar, mas não consegue;
  • se suas atitudes estão diferentes e tem optado pelo isolamento social, sentido irritação e intolerância, bem como tendo atitudes impulsivas das quais se arrepende posteriormente, agitação e falta de controle;
  • se tem estado desmotivado(a) no trabalho, com dificuldade de concentração, baixa produtividade e sem vontade de se relacionar com as outras pessoas;
  • e, por fim, se tem observado alterações na qualidade do seu sono, como episódios de insônia ou pesadelos, e na sua alimentação, com aumento ou perda de apetite.

Ah! Se todos tivéssemos a mesma capacidade de enfrentar situações inusitadas que abalam nosso emocional, pudéssemos nos restabelecer em um curto período e retomar nossas atividades diárias com maior satisfação, seja no trabalho ou no convívio familiar e social. Se você não faz parte desse grupo, este é o momento de parar e olhar para si com mais amorosidade e cuidado, somente para então poder voltar a viver melhor. Acredite nisso: você não está sozinho.

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