Síndrome da Cabana: isolamento e pandemia

Por Danielle KrizanoskiFabiana K. Altman

Algumas pessoas não veem a hora de retornar ao ‘novo normal’, outras entram em pânico com a ideia disso. Se você faz parte do grupo que sente desconforto somente em imaginar um retorno ao convívio social pós-pandemia, talvez você esteja sofrendo da síndrome da cabana, um fenômeno psicológico acometido após longos períodos de isolamento acionado pelo medo de cogitar sair de casa.

O termo foi criado para explicar o problema que caçadores sentiam, em torno do ano de 1900, nos Estados Unidos, após longos meses sozinhos em suas cabanas aguardando pelo fim do inverno e retorno à civilização. Ao passarem muito tempo nessa condição, seus cérebros se condicionavam a viver confinados e disparavam ansiedade e estresse ao retornarem ao convívio social. Essa síndrome nunca esteve tão presente em nossas vidas, uma vez que estamos restritos às nossas ‘tocas’ e precisamos retomar gradualmente nossas atividades e ao convívio social. E, considerando a amenização das regras de isolamento e distanciamento, esse período pode ser um gatilho de medo para o momento de sair de casa, havendo chances da síndrome da cabana se manifestar.

O medo diante de uma ameaça é adaptativo, como lavar as mãos, usar a máscara e manter o distanciamento físico, ações adotadas por receio da contaminação. Há ainda quem pense: ‘não vou sair. Aqui, na minha casa, sei que tudo está limpo e não serei contaminado(a)’, e isso é considerado normal. No entanto, trata-se de um controle excessivo sobre as situações. E, uma vez que esse pensamento o(a) impede de sair do ambiente doméstico para trabalhar ou adquirir itens de necessidade básica, quando o medo e ansiedade exacerbados se transformam em esquiva, paralisação e distanciamento excessivo, trata-se de uma patologia.

Dependendo da intensidade do isolamento, pode-se desenvolver quadros de transtorno de pânico, ansiedade e depressão. A falta de conexão com outras pessoas é outro forte indício, não necessitando se tratar apenas de um distanciamento social, mas físico. Esse contato pode ser mantido via telefonemas, redes sociais e até presencialmente, desde que obedecendo às orientações para evitar contaminações. Os sintomas que surgem associados a essa síndrome são: a ansiedade, acompanhada ou não de inquietação, irritabilidade e taquicardia; alteração de humor; perda de memória e concentração; sensação de frustração e impotência; falta de motivação e ânimo. As modificações que ocorrem no corpo são variadas, desde a produção de hormônios que alteram os ciclos de sono e vigília, até alterações no paladar.  

Para enfrentar essa condição, a prevenção ainda é o melhor caminho. Ao identificar alguns desses sintomas, é necessário buscar uma ajuda especializada para evitar a evolução do quadro. Para aqueles que se sentem incapazes e angustiados ao retomar suas atividades, procurem adotar as seguintes orientações a fim de sentirem-se mais seguros. São elas:

  1. Crie uma rotina: acorde e busque se alimentar no mesmo horário, fazer refeições saudáveis e praticar exercícios físicos. Procure reservar um tempo para realizar algo que goste, como ler um livro, meditar e cozinhar;
  2. Respeite seu tempo: ninguém é melhor do que você para saber o que precisa para se sentir confortável. Seja gentil consigo mesmo, não se cobre nem se julgue;
  3. Escolha seu ritmo: pode parecer difícil sair de casa, mas lembre-se dos momentos que viveu fora dela. Volte imediatamente caso não se sinta bem, pois você conduz o ritmo. Dê um passo de cada vez;
  4. Recompense seus avanços: priorize pequenos passos para avançar com mais segurança. Por exemplo, ande na sua rua de casa e aumente gradualmente a exposição até andar uma quadra inteira. A cada atividade que realizar, se recompense.

É importante pontuar que a síndrome da cabana não é um transtorno mental, mas um conceito para explicar algo novo que estamos vivendo. O diagnóstico deve ser realizado por um psicólogo ou um psiquiatra, que indicará o tratamento adequado. Buscando auxílio podemos minimizar os problemas acarretados por todo esse contexto.

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