Quatro passos para cuidar da sua saúde emocional

Por Sizumi Claudia Sato Suzuki

O poeta Carlos Drummond de Andrade foi muito criticado, na época, por cometer um erro considerado grave pela gramática normativa ao escrever “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho […]”. Seria correto escrever que ‘havia uma pedra’, mas a poesia pode desconsiderar regras, provocar reflexão, trazer desconforto, e nos fazer parar ‘no meio do caminho’.

A pandemia fez isso intensamente, nos provocou ‘um deslizamento’ de pedras: o isolamento social, a escola em casa, o trabalho em casa, o lazer em casa… tudo em casa, algo impensável em pleno século XXI.

No início, um estado de alerta assolou a todo o mundo na ânsia de saber o que estava acontecendo, pois cada vez mais notícias chegavam de outros países e não eram nem um pouco animadoras. Mais mortes, cada vez mais doentes, inúmeros hospitais e profissionais sobrecarregados, novas fronteiras fechadas, e novas percepções de risco também elevadas. Assim, uma realidade muito diferente foi imposta para preservar a vida. Projetos precisaram ser interrompidos e adequados aos espaços domésticos para atender às mais diversas atividades e necessidades, e a convivência 24 horas trouxe estresse aos relacionamentos.

O tempo passou, nos adaptamos com muito álcool em gel, uso de máscaras e tudo aquilo que todos estamos carecas de saber. Cansamos da pandemia? Muitos diriam que sim. Mas, sinto muito em dizer, é aí que reside o perigo.

A realidade é que o cérebro também se cansa e reduz a percepção de risco a medida em que as regras de restrição e mobilidade são flexibilizadas. Cuidar bem de nós mesmos não significa apenas manter o espaço físico limpo e higienizado, visando um corpo sadio, sem doenças. Muitos estudos revelam que o isolamento social não adoece, mas a falta de habilidades emocionais e sociais compromete a saúde na totalidade. A boa notícia é que podemos desenvolvê-las começando com apenas quatro passos:

  1. identifique e acolha seus sentimentos. Eles são naturais, não escolhemos o que sentir. Em uma partida de futebol, por exemplo, na final de um campeonato, se o time ‘A’ faz um gol no time ‘B’, automaticamente, a torcida do time ‘A’ sente alegria e euforia, enquanto a torcida do time ‘B’ sente tristeza e raiva;
  2. pense em algo que possa fazer para se sentir melhor e não prejudique a si nem a ninguém, como beber um copo d’água, ouvir uma música, assistir filme, ler um livro, tomar um banho… Você até pode fazer uma lista, pois às vezes pode ser difícil pensar com clareza no instante em que o sentimento revisita;
  3. diga o que sente para alguém. Seja ‘estou triste’, ‘estou irritado’ ou ‘estou ansioso’, o importante é ter consciência da razão para se sentir assim e saber como comunicar sem faltar com respeito;
  4. por fim, mas não menos importante, não tema pedir ajuda para alguém em quem você confia. Você ainda pode convidar pessoas do seu convívio a fazer a lista que está no passo 2 e deixá-la em um local visível para todos. Caso tenha crianças, garanto que elas se divertirão. Experimente!

Não se esqueça de sempre cuidar bem de você e dos seus sentimentos. Depois que a pandemia passar, ainda assim, é certo que encontraremos vez ou outra ‘uma pedra no meio do caminho’.

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