Por Erika Zanoni Fagundes Cunha
A origem da palavra trauma é grega e significa ferida. Realmente, determinados acontecimentos trágicos produzem uma lesão psíquica, que demora a “cicatrizar”. Sabemos que animais, quando enfrentam situações de catástrofes, agem, pulam, correm, saltam, cavam, fuçam, cheiram e mordem, ou seja, instintivamente fazem logo o que precisa ser feito. Considero inspirador o método utilizado por eles para o enfrentamento do imprevisto. Mas, em alguns casos, quando essas feridas psíquicas são mais crônicas, podemos observar lesões estruturais no cérebro desses animais, predispondo ao aparecimento de transtornos mentais.
Aprendi com meus pacientes que não existe nenhum medicamento vendido na farmácia com uma capacidade tão boa de penetrar em feridas profundas, limpá-las e cicatrizá-las como o apoio incondicional. E, nesse momento, é o que deve ser feito. Infelizmente, a faculdade de medicina veterinária é dura e não se ouve falar de trauma psíquico, mas devemos acolher os sentimentos desses animais que não sabem como pedir ajuda diante da catástrofe no Rio Grande do Sul. Eles estão cansados, com fome, desconfortáveis, de luto e desprotegidos, e a única forma que sabem como pedir ajuda é vocalizando, sendo agressivos ou alterando seu comportamento.
Existem diversas abordagens para minimizar as consequências do trauma antes que ele se instale, e o primeiro passo é reconhecê-lo. Entender que animais também podem ter sequelas desse trauma já é um caminho. Daqui para frente, enfrentarão desafios emocionais intensos, podem se tornar hipervigilantes, apresentar insônia, ficarem menos autênticos e talvez se isolarem em suas dores. Mas para lidar mais facilmente com isso, talvez haja a necessidade de tratamento, sem punição, como se fosse para qualquer outra doença, já que o transtorno mental mata.