Memória traumática

Por Débora Pereira do Nascimento

Vivemos em um mundo repleto de alegrias e tristezas, onde é necessário o reencontro consigo mesmo para cada acontecimento marcante em nossas vidas serem mecanismos de elevação existencial. Como identificar porque estou triste? Será que alguém interferiu no meu viver e danificou meus sentimentos? Devo reagir a isso passivamente? Devo lidar com mais intrepidez? O que pratiquei ou declarei e produziu uma reação no outro? Essas são algumas das perguntas que nos fazemos e necessitam de respostas informantes e claras.

Sabemos que durante o percurso de vida nosso sistema sensoperceptivo apreende episódios que emergiram de diversas situações e pessoas. Um sistema sociopolítico pode afligir um indivíduo, e muitos ditames em diferentes situações fornecem formas de atrofiamentos. Existem formas de viver saudavelmente, mas se deve enclausurar em meio às tormentas da vida sem dúvidas pode originar traumas. A tristeza, por exemplo, pode ser um sintoma a depender da intensidade e dos comportamentos relacionados ao sentimento.

Memórias traumáticas, além de evidenciar uma mente bloqueada, também podem prejudicar relacionamentos atrofiados. Os eventos estressores em si não levam obrigatoriamente à manifestação de traumas psicológicos, pois experiências intensas disparam efeitos variáveis conforme as defesas e recursos psicológicos de cada pessoa. Porém, nossas defesas psicológicas são aprendizagens desejáveis, pois se tratam dos modos de pensar e superar um problema ou uma dor, dos recursos construídos ao longo do tempo.

Em situações de dor intensa, tais defesas e recursos psicológicos podem não ser suficientes, trazendo as consequências desagradáveis a quem estão sendo alvo. Uma das formas de manter o trauma ativo são as memórias que vêm carregadas de imagens, emoções dos eventos traumáticos do passado revividos atualmente, por intermédio de sintomas, tais como:

  • comprometimentos cognitivos (confusão mental, desorientação temporal, dificuldade de concentração e de tomada de decisões, dificuldade de expressar pensamentos, diminuição na percepção, pesadelos, aumento de preocupações);
  • comprometimentos emocionais (ansiedade, apreensão, culpa, desamparo, desesperança, desespero, irritabilidade, negação, pânico, raiva, tristeza);
  • comprometimentos físicos (abuso de drogas para buscar alívio, alterações cardiovasculares, estado de alerta e hiperatividade, fadiga, fraqueza, insônia, perda da energia sexual, distúrbios alimentares, somatizações como dor de cabeça, desconfortos gástricos, diarreia, dor de estômago, náusea);
  • e comprometimentos interpessoais (aumento de conflitos nos relacionamentos sociais pela baixa tolerância, isolamento, prejuízo do desempenho profissional, recusa ou dificuldade em seguir regras e/ou ordens). 

A lembrança específica de uma memória traumática pode disparar a formação de padrões defensivos de comportamento, como medos exagerados em situações que não mais oferecem riscos nem são apropriados ao momento atual, contribuindo com alterações ao equilíbrio psicológico, biológico e social da pessoa.

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