Por Lisielen Miranda Goulart e Luana Miranda Goulart
O Setembro Amarelo se encerrou, mas isso não significa que devemos parar de falar sobre saúde mental. Muito pelo contrário: devemos abordar o assunto em todos os dias e meses do ano, pois quem sofre não escolhe um período do ano para isso, e o acolhimento a essas pessoas também não deve ser esporádico.
Mas como saber que alguém está em sofrimento? Essa pessoa demonstra? É simples perceber os sinais? Afinal, existem sinais? Essas perguntas são recorrentes e estão constantemente em debate. Um indivíduo em sofrimento apresenta, sim, sinais, porém muitas vezes são sinais ambíguos, difíceis de compreender ou até mesmo imperceptíveis. Em diversas situações, ele mesmo não se compreende e sente dificuldade em expressar seus anseios, suas angústias e preocupações.
A melhor forma de ajudar alguém em sofrimento é colocar-se à disposição. Pergunte se está tudo bem e esteja disponível para quando precisar se expressar. Escute-o(a) e acolha-o(a). Além disso, esteja atento(a) às mudanças sutis no seu comportamento, como alteração do apetite, de humor, desatenção e negligência consigo mesmo(a), chegando até a falta de autocuidado e frases como ‘não aguento mais’, ‘quero desistir’, ‘quero que isso acabe’, por exemplo. Engana-se quem pensa que uma pessoa em sofrimento sempre aparentará estar sofrendo. Pelo contrário: pode ser a mais feliz e animada do seu círculo social, ainda que não passe de uma máscara justamente por não saber como pedir ajuda.
Ainda existe um grande tabu na nossa sociedade de que aquele que deseja se matar apenas se mata, sem avisar. Ou ainda que, se avisa ou tenta diversas vezes sem sucesso, é porque deseja atenção. Isso é um grande mito e preconceito, pois o pedido de ajuda pode ocorrer de diversas formas antes de cometer suicídio. Por isso a importância da frase: é necessário prestar atenção aos detalhes.
Outra pergunta frequentemente realizada é sobre o que aconteceu para alguém ‘estar assim’. Sabe-se que o sofrimento não é isolado e pode, sim, decorrer de situações ou traumas específicos, mas, em geral, é uma consequência de diversos fatores que culminam no extremo sofrimento até o auge de tirar a própria vida. Esses fatores podem ser recentes, decorrentes de mudanças e eventos de curto prazo ou longo prazo, desde a infância e adolescência, períodos-chave no desenvolvimento do ser humano.
Vale ressaltar que não é necessário o acontecimento de traumas expressivos para que alguém sofra, pois o acúmulo de pequenos traumas é o bastante para gerar sofrimento. Cada ser é único e possui sua singularidade, logo, um acontecimento que afeta uma pessoa pode não impactar outra.
A campanha do Setembro Amarelo existe para trazer à tona um assunto delicado e necessário de ser discutido, assim como outras campanhas ao longo do ano, a exemplo do Janeiro Branco, Agosto Lilás, Outubro Rosa e Novembro Azul. Porém, não se deve discutir esses temas apenas nos meses específicos, mas buscar se informar e discuti-los durante todos os meses do ano, colaborando para termos cada vez menos tabus em nossa sociedade.
Por fim, é imprescindível dizer que a ajuda especializada é essencial, visto que os profissionais da Psicologia e da Psiquiatria possuem a formação e as habilidades necessárias para o cuidado de pessoas em sofrimento mental.