Por Jeferson Alves Maia
Segundo estudo realizado na Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, as pessoas interagem cerca de 2.617 vezes ao dia (em torno de duas horas e meia) tocando, rolando ou pressionando a tela de dispositivos eletrônicos, sem se dar conta que isso pode ocasionar sintomas e gerar dependência. Essa necessidade de estar sempre conectado pode tornar um vício com reações equivalentes ao uso excessivo de substâncias psicoativas por formar conexões neurológicas semelhantes ao de viciados em opiáceos, segundo pesquisadores.
Numa análise com 135 estudantes dessa mesma universidade as pessoas que usavam seus aparelhos com mais frequência se sentiam isolados, sozinhos, deprimidos e ansiosos. De acordo com os cientistas, essas sensações são consequências que surgem quando as interações pessoais são substituídas pela comunicação sem linguagem corporal e outros sinais reais, bem como a preocupação exagerada em mostrar-se bem ao outro, ocultando qualquer sinal de falhas e/ou desafeto, num modelo de vida ideal.
Esses mesmos participantes também mostraram ser multitarefas: estudam, comem, assistem às aulas e consomem algum tipo de mídia simultaneamente, prejudicando que o corpo e a mente tenham tempo para relaxar e se autorregenerar. E essa falta de descanso faz com que as tarefas sejam feitas foco e/ou pela metade, sem atenção concentrada.
Mas não sinta-se culpado por esse comportamento, pois isso é fruto das empresas de tecnologia para aumentar seus lucros. É alto o investimento com notificações, vibrações e outros alertas em celulares e computadores para manter a atenção das pessoas, consequentemente aciona os mesmos caminhos cerebrais de alertas de perigo iminente (ocasionando as mesmas reações corporais em situações de trauma e estresse elevado).
Além disso, a busca incessante por validação e aceitação nas redes sociais pode contribuir para a depressão na era pós-tecnológica. A constante comparação com os padrões inatingíveis de beleza, sucesso e felicidade promovidos nas plataformas digitais pode corroer a autoestima e gerar sentimentos de inadequação.
O fenômeno do FOMO (Fear of Missing Out, ou medo de ficar de fora) também desempenha um papel significativo na depressão moderna. A sensação de estar sempre por fora das últimas tendências, eventos e experiências compartilhadas online pode levar a sentimentos de isolamento e exclusão social.
A cultura de cancelamento, tão prevalente nas redes sociais, também pode ampliar os sentimentos de ansiedade e depressão. O medo constante de ser julgado, criticado ou ostracizado por uma opinião ou ação mal interpretada pode levar as pessoas a se retrair e evitar o contato social, exacerbando ainda mais sua solidão e desconexão.
Além disso, a exposição constante a conteúdos negativos e traumatizantes online pode desencadear ou agravar problemas de saúde mental, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtorno de ansiedade generalizada (TAG). A falta de filtros adequados para proteger os usuários dessas experiências perturbadoras pode deixá-los vulneráveis a um ciclo prejudicial de ruminação e sofrimento emocional.
É essencial reconhecer que a tecnologia, por si só, não é a causa da depressão na era pós-tecnológica, mas sim a maneira como interagimos com ela e como é projetada para nos envolver. Precisamos ser mais conscientes de nossos padrões de uso e estabelecer limites saudáveis para proteger nossa saúde mental e bem-estar emocional.
Ao mesmo tempo, é crucial que a indústria da tecnologia assuma uma responsabilidade ética e social em relação ao impacto de seus produtos na saúde mental das pessoas. Isso inclui a implementação de recursos de bem-estar digital, políticas de privacidade mais transparentes e a promoção de uma cultura online mais inclusiva e empática.
Navegar pela depressão na era pós-tecnológica requer uma abordagem multifacetada que reconheça os complexos interplays entre tecnologia, saúde mental e sociedade como um todo. Somente através do diálogo aberto, educação e ação coletiva podemos esperar criar um ambiente digital mais saudável e compassivo para todos.
Busque ajuda!
Para superar a depressão na era pós-tecnológica e buscar ajuda, é fundamental adotar uma abordagem holística que combine estratégias de autocuidado, suporte profissional e mudanças em nossos padrões de uso da tecnologia. Aqui estão algumas maneiras de começar:
Para superar a depressão na era pós-tecnológica e buscar ajuda, é fundamental adotar uma abordagem holística que combine estratégias de autocuidado, suporte profissional e mudanças em nossos padrões de uso da tecnologia. Aqui estão algumas maneiras de começar:
1. Busque ajuda profissional: Consultar um psicólogo, psiquiatra ou terapeuta é essencial para entender e lidar com os desafios da depressão. Eles podem oferecer apoio emocional, orientação e tratamento adequado, como terapia cognitivo-comportamental, terapia interpessoal ou medicamentos, se necessário.
2. Pratique o autocuidado: Dedique tempo para cuidar de si mesmo, priorizando atividades que promovam o bem-estar físico, emocional e mental. Isso pode incluir exercícios regulares, meditação, alimentação saudável, sono adequado e hobbies que tragam alegria e relaxamento.
3. Estabeleça limites de tecnologia: Defina horários específicos para o uso de dispositivos eletrônicos e redes sociais, evitando o excesso de tempo online. Desligue as notificações desnecessárias e reserve períodos de desconexão digital para se reconectar com o mundo ao seu redor e com as pessoas importantes em sua vida.
4. Cultive relacionamentos off-line: Priorize as interações face a face e invista em relacionamentos pessoais significativos. Busque atividades sociais que promovam conexões genuínas e apoio mútuo, como participar de grupos de interesse comum, voluntariado ou encontros com amigos e familiares.
5. Aprenda habilidades de enfrentamento: Desenvolva estratégias saudáveis de enfrentamento para lidar com o estresse, a ansiedade e os desafios da vida. Isso pode incluir técnicas de relaxamento, respiração profunda, visualização criativa, práticas de mindfulness e expressão criativa através da arte, música ou escrita.
6. Participe de grupos de apoio: Considere participar de grupos de apoio presenciais ou online, onde você possa compartilhar suas experiências, obter suporte de pessoas que passam por situações semelhantes e aprender com os outros sobre estratégias de enfrentamento eficazes.
7. Promova a conscientização e a educação: Informe-se sobre saúde mental, depressão e os impactos da tecnologia na saúde emocional. Compartilhe informações com amigos, familiares e comunidade para combater o estigma em torno da doença mental e promover um diálogo aberto sobre o tema.
8. Utilize recursos digitais de apoio: Explore aplicativos e plataformas online projetados para oferecer suporte à saúde mental, como aplicativos de meditação, rastreadores de humor, fóruns de suporte e linhas de apoio emocional.
Lembrando sempre que buscar ajuda não é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem e autocompaixão. Você não está sozinho, e há recursos e pessoas dispostas a ajudá-lo a enfrentar a depressão e encontrar o caminho para a recuperação.