Por Daisy Augusto de Queiroz
A ansiedade nem sempre se manifesta em crises evidentes ou em pensamentos acelerados. Em muitos casos, ela se apresenta silenciosamente, travestida de controle excessivo, perfeccionismo, rigidez ou hiper produtividade. Essa ansiedade oculta é comum em pessoas que desenvolvem, ainda na infância ou adolescência, estratégias de sobrevivência emocionais para lidar com ambientes imprevisíveis ou marcados por experiências traumáticas.
A necessidade constante de estar no controle pode ser vista como uma tentativa de evitar o caos interno. Quando alguém tenta controlar tudo ao redor (os horários, os relacionamentos, os mínimos detalhes do cotidiano), muitas vezes está tentando evitar que dores internas ressurjam. O controle torna-se um amortecedor psíquico. Segundo Aaron Beck (1997), os esquemas cognitivos formados por experiências adversas moldam crenças centrais como ‘não posso falhar’ ou ‘não posso relaxar’, mantendo o corpo e a mente em estado de hiper alerta.
Esse padrão de funcionamento exige um esforço contínuo e silencioso. Com o tempo, gera esgotamento, desconexão emocional, dificuldade de confiar nos outros e sensação crônica de inadequação. Peter Levine (1997) destaca que o trauma pode prender o sistema nervoso em estados de defesa prolongados. Mesmo na ausência de ameaça real, o corpo permanece ativado, e o controle passa a ser a maneira encontrada para se sentir seguro.
A ansiedade oculta também se expressa em pessoas vistas como fortes, eficientes e responsáveis, mas que sofrem em silêncio, buscam incessantemente por resultados, aceitação ou evitar erros pode estar sustentando dores profundas que ainda não foram reconhecidas. A aparência de estabilidade emocional, nesse caso, pode esconder um estado interno de tensão e medo constante.
Para quebrar esse ciclo, é necessário reconhecer que o controle excessivo não é sinal de força, mas de defesa. Práticas de autorregulação como a respiração consciente, o mindfulness e o contato gradual com as emoções são caminhos seguros para flexibilizar padrões rígidos. E a psicoterapia também é um espaço importante para identificar esses mecanismos de defesa e construir, com suporte, formas mais saudáveis de lidar com a ansiedade.
Quando a necessidade de controlar começa a ceder, surge a possibilidade de viver com mais leveza e autenticidade. Não é sobre perder o controle, mas sobre aprender a confiar em si e no fluxo da vida, mesmo nas incertezas.
REFERÊNCIAS:
BECK, A. T. Terapia cognitiva e os transtornos de personalidade. Editora Artes Médicas, 1997.
LEVINE, P. A. O Despertar do Tigre: curando o trauma. Summus Editorial, 1997.
VAN DER KOLK, B. O corpo guarda as marcas. Editora Artmed, 2015.
