Memória traumática

Sad ill asian girl staying on self quarantine during covid, catching flu and sitting at home with cup of tea near window.

Por Débora Pereira do Nascimento

Vivemos em um mundo repleto de alegrias e tristezas, onde é necessário o reencontro consigo mesmo para cada acontecimento marcante em nossas vidas serem mecanismos de elevação existencial. Como identificar porque estou triste? Será que alguém interferiu no meu viver e danificou meus sentimentos? Devo reagir a isso passivamente? Devo lidar com mais intrepidez? O que pratiquei ou declarei e produziu uma reação no outro? Essas são algumas das perguntas que nos fazemos e necessitam de respostas informantes e claras.

Sabemos que durante o percurso de vida nosso sistema sensoperceptivo apreende episódios que emergiram de diversas situações e pessoas. Um sistema sociopolítico pode afligir um indivíduo, e muitos ditames em diferentes situações fornecem formas de atrofiamentos. Existem formas de viver saudavelmente, mas se deve enclausurar em meio às tormentas da vida sem dúvidas pode originar traumas. A tristeza, por exemplo, pode ser um sintoma a depender da intensidade e dos comportamentos relacionados ao sentimento.

Memórias traumáticas, além de evidenciar uma mente bloqueada, também podem prejudicar relacionamentos atrofiados. Os eventos estressores em si não levam obrigatoriamente à manifestação de traumas psicológicos, pois experiências intensas disparam efeitos variáveis conforme as defesas e recursos psicológicos de cada pessoa. Porém, nossas defesas psicológicas são aprendizagens desejáveis, pois se tratam dos modos de pensar e superar um problema ou uma dor, dos recursos construídos ao longo do tempo.

Em situações de dor intensa, tais defesas e recursos psicológicos podem não ser suficientes, trazendo as consequências desagradáveis a quem estão sendo alvo. Uma das formas de manter o trauma ativo são as memórias que vêm carregadas de imagens, emoções dos eventos traumáticos do passado revividos atualmente, por intermédio de sintomas, tais como:

  • comprometimentos cognitivos (confusão mental, desorientação temporal, dificuldade de concentração e de tomada de decisões, dificuldade de expressar pensamentos, diminuição na percepção, pesadelos, aumento de preocupações);
  • comprometimentos emocionais (ansiedade, apreensão, culpa, desamparo, desesperança, desespero, irritabilidade, negação, pânico, raiva, tristeza);
  • comprometimentos físicos (abuso de drogas para buscar alívio, alterações cardiovasculares, estado de alerta e hiperatividade, fadiga, fraqueza, insônia, perda da energia sexual, distúrbios alimentares, somatizações como dor de cabeça, desconfortos gástricos, diarreia, dor de estômago, náusea);
  • e comprometimentos interpessoais (aumento de conflitos nos relacionamentos sociais pela baixa tolerância, isolamento, prejuízo do desempenho profissional, recusa ou dificuldade em seguir regras e/ou ordens). 

A lembrança específica de uma memória traumática pode disparar a formação de padrões defensivos de comportamento, como medos exagerados em situações que não mais oferecem riscos nem são apropriados ao momento atual, contribuindo com alterações ao equilíbrio psicológico, biológico e social da pessoa.

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