Somos todos neuróticos?

Por Maria Helena Durau

Somos todos neuróticos? E se eu te disser que sim? Que a grande maioria das pessoas já apresentou ou apresenta tensões neuróticas ao longo da vida? Mas, afinal, o que é neurose? Como saber se eu realmente sou?

Antes de tudo, precisamos compreender que somos criaturas com necessidades, nascemos assim, e a neurose é um recurso inerente da condição humana. Não se trata de uma resposta voluntária, mas um recurso de proteção à vida e de sobrevivência. E esta resposta surge mediante a vivência de algo perturbador que pode se tornar uma crença de termos sido suficientemente amados, protegidos ou valorizados principalmente na primeira infância, bem como um trauma, evento violento e imenso sofrimento físico e emocional.

Esse sofrimento surge quando uma das necessidades de proteção, valorização e alimentação ou manutenção à vida não são atendidas. Então, para suprimir sua dor ou essa falta, o bebê ou a criança terá de separar suas sensações da consciência e afastar seu foco e atenção do que lhe machuca, uma vez que permanecer com essa dor poderá resultar em morte. Portanto, trata-se de algo que ameaça a sua sobrevivência quando atinge um grau máximo de intolerabilidade. 

São estas duas condições, trauma ou compreensão de algo perturbador, que geram a chamada dor primal. De tão intensa esta vivência devido a sua conotação de ameaça à vida, praticamente se desliga da consciência. E, para manter esta dor fora das memórias conscientes ou amenizada em suas significações, o corpo inicia um processo de deslocamento de forças orgânicas e psicológicas para suprimi-la. São estas forças deslocadas internamente que geram tensões ou neuroses que, por sua vez, afetará todo o organismo, iniciando com os órgãos, músculos e sistemas, e encerrando com a distorção do comportamento.

A dor primal exerce uma força na estrutura psíquica criando uma demanda de necessidades novas. Este mecanismo ocorre para que se possa parar de sentir conscientemente a necessidade não atendida, pois isso é uma ameaça à vida. É aí que começa a busca por satisfações substitutas. A necessidade primal não atendida é a espera por uma satisfação, e, como não ocorreu, o bebê ou criança a substituirá por outra substituta, também chamada de simbólica. Suas necessidades continuarão a existir, porém, ao nível inconsciente. 

Em si, a neurose é uma deformidade do sentimento que muda conforme se relaciona com o mundo de modo a se proteger da dor primal. Por exemplo, uma criança que não foi ouvida ou pode se exprimir é um adulto que busca compreensão e deseja ser ouvido. Desejo sexual insaciável também é um exemplo de sintoma neurótico.

A cura da neurose passa pela liberação da dor primal. Como disse Arthur Janov, criador da terapia primal, “a dor termina exatamente onde começa.” Para isso, o neurótico deve ser conduzido até o momento em que se instalou a dor primal e libertá-la por meio de um grito primal. Este grito é a reminiscência daquilo que ficou ‘preso’ durante o evento ou a compreensão traumática. 

Esta liberação é sucedida tão logo por uma intensa sensação de relaxamento, alívio e paz. A partir daí, toda a construção neurótica esmorece e toda a ação simbólica perde a razão de existir. O indivíduo começa a retornar para a sua autenticidade e passa a viver para si, não mais em razão de uma dor.

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