Por Alana Aguida Berti
Em meados do mês de dezembro de 1994, no final da tarde de um domingo ensolarado, eu e minha família sofremos um acidente de carro. Em um trevo na saída de nossa cidade, um fusca não parou e nos atingiu em cheio, provocando o capotamento. Era verão e eu estava com meu braço direito apoiado na janela. Nosso Fiat 147 fez 360º e meu braço direito foi imprensado entre o automóvel e o asfalto. Fui a única com ferimentos mais graves, os demais ocupantes (meu ex-marido, meus filhos e minha cunhada) tiveram apenas arranhões leves.
Fui levada ao hospital por um casal que viu o acidente e parou para prestar socorro; enquanto isso, os demais ficaram para conversar e resolver a situação. Meu braço sofreu várias lesões: quebrei o osso rádio (perto do punho), minha pele foi arrancada, parte da carne foi esmagada e também houve um corte no meio do antebraço, passando pelo cotovelo e quase chegando à axila, ficando a milésimos de centímetros de atingir a artéria braquial. Situação delicada. Ferida no vivo, sem pele, osso quebrado; não podiam fazer cirurgia porque o risco de infecção era muito grande. Optaram em, após a limpeza, colocar uma tala, fazer curativos periódicos e me liberar para ir para casa.
A cada dois dias, ia até o hospital fazer o dito curativo que, na verdade, era uma sessão de tortura, pois a compressa grudava no ferimento e doía muito para removê-la. Isso, sem contar que os médicos não sabiam quais sequelas poderiam permanecer. Foi um mês de tratamento, restando um ‘caroço’ no local da fratura, uma pele mais fina, cicatriz do corte que perdura até hoje, a carne efetivamente sumiu, sem contar que os dedos anelar e mínimo perderam parte de sua força, o que faz com que eu às vezes não segure objetos e os deixe cair.
Pensamos que somos fortes e fatos como esse não nos afetam, que somos ‘superiores’ a isso. Mas não foi o que aconteceu comigo. Deste incidente, ao longo do tempo, percebi três traumas: primeiro, alguns meses após o acidente e já completamente recuperada, precisei fazer uma viagem a uma cidade próxima com um cliente. Saindo do escritório, ele me deu a chave de seu carro e me disse para dirigi-lo. Bateu o pânico total! Falei que não, ele insistiu, e ‘batemos boca’ até que ele falasse que só iríamos se eu dirigisse. Não tive escolha, e dirigi: ali superei um medo que eu não sabia que estava dentro de mim, pois sempre amei dirigir.
O segundo trauma ocorreu cerca de um ano depois. Próximo das 17h, havíamos acabado de buscar meu filho mais novo na escola quando um automóvel não para na preferencial e quase nos acerta em cheio. Os carros parados, desci e xinguei histericamente o motorista, parecendo uma doidivana. Meses depois, em uma audiência, o advogado da outra parte comentou que ficou sabendo dessa minha atitude e se assustou, pois não ‘combinava’ comigo. Relatei então a minha experiência com o acidente, e todo o trauma que ele causou em mim.
E o terceiro trauma que descobri foi muito bem escondido, mas mudou completamente a minha vida: aquele acidente marcou o início da minha separação, que ocorreu dois anos e meio mais tarde, mas esse é um assunto para outro texto.