Raízes psicológicas da obesidade: a jornada do corpo ferido

Por Daniele Rodrigues

É muito comum na obesidade nos depararmos com alguns traumas profundos, complexos, guardados em segredo. Um corpo grande esconde, na maioria das vezes, dores emocionais muito maiores.

Mulheres comumente são acometidas por traumas de abuso sexual na infância, que através da comida viram maneiras de saciar vazios existenciais imensos frequentemente relacionadas à dor do abandono. O abandono de genitores que não deram o devido cuidado, tornando essa criança vulnerável a esse problema; abandono da veracidade quando relatado o ocorrido e os genitores não deram crédito para a voz da criança… Enfim, independentemente dos motivos, um abuso traz em sua bagagem a negligência do adulto responsável, seja ele o genitor, seja outros acoplados.

O primeiro passo para curar esta ferida, reconhecer e aceitar seus sentimentos. É normal sentir tristeza, raiva, solidão, até mesmo vergonha após ser abandonado ou por se sentir dessa maneira. Permita-se, não as rejeite; essas emoções fazem parte do processo de cura. Ela surge ao experimentarmos a sensação de sermos rejeitados ou não sermos amados e valorizados.

Quem tem medo do abandono sente uma dificuldade imensa em manter relacionamentos saudáveis, tornando-se presas para situações abusivas, mas esse medo paralisante pode levar ao isolamento a fim de evitar se machucar. Também é possível que a pessoa inadvertidamente sabote seus relacionamentos, e essas frustrações acarretam em vazios existenciais facilmente preenchidos pela comida.

A comida traz a sensação de amor, afeto e afago que tanto precisamos. O açúcar favorece isso, torna-se viciante como uma droga, porém socialmente aceita e bastante estimulada por todos os órgãos dos sentidos. Afinal, me diga, quem fica triste comendo uma torta de limão? Que aborrecimento persiste diante de um brigadeiro de panela?

Criamos hábitos que não imaginamos a origem e nem sempre nos atentamos para onde vai, mas é essa tomada de consciência a necessária para que o coração libere os pesos que divide com o corpo. Isso não significa que todo obeso foi abandonado e abusado, mas, sem dúvida, todo obeso possui uma dor complexa e profunda, fruto de um grande trauma psicológico que acarretou na compulsão alimentar.

A criança interior ferida, aquela que viveu a dor do trauma, vive na defensiva com mitos ilusórios à espera de validação externa, não sabendo se autorizar nem ter ideia de ser criativa e inovadora, pois cada um de nós é um ser único e inimitável. Essa criança interna precisa ser restaurada, acolhida e reconhecida; é preciso oferecer a ela um lugar junto ao adulto que nos tornamos. Na verdade, um adulto bem-sucedido é aquele cuja criança amadureceu e aprendeu a lidar com os desafios. Se for ignorada e ficar invisível, dará um jeito de ser vista, geralmente sem avisar.

Por isso, olhar com amor para as suas dores é o primeiro passo para um emagrecimento consciente e cognitivo. Não seja tão duro consigo mesma, nem burle etapas importantes. Essa caminhada é longa, mas pode ser prazerosa e não precisa ser feita sozinha. Busque ajuda profissional, estreite laços sólidos e usufrua de tudo que fizer. Faça de alma e coração aberto. Respeite-se, respeite seu tempo e seus limites. Você não está só; na verdade, nunca esteve. Apenas se sentiu assim em muitas ocasiões.

 

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