Por que não tratar melhor a si mesmo?

Por Fabiana Carvalho

 

Aprendemos desde muito cedo em nossas vidas a nos autocobrar injustamente. O tempo, o ritmo acelerado da contemporaneidade e a sobrecarga de atividades a fazer nos pressionam a produzir cada vez mais, desejando ultrapassar nossos próprios limites, o que nem sempre é saudável. Muitos sentimentos de culpa, distorção da autoimagem, insegurança e baixa autoestima vem ocultos no desejo de superprodução e entrega em tempo recorde.

Diante desse cenário de excessos e necessidade de agradar a tudo e todos, como é possível lidar? Como se manter são? Essa é a importância de falar sobre a autocompaixão, de olhar para si sob uma ótica diferente. É se tratar com gentileza, apoio e compreensão, de se acolher, da mesma maneira amigável com a qual trataria outra pessoa como um(a) amigo(a) em momento de dificuldade. É permitir-se e aceitar-se como é, reduzindo suas autocobranças e autocríticas.

Em geral, tendemos a aceitar melhor as falhas de outras pessoas que as nossas próprias, e engana-se quem acredita poder ser compassivo com os outros, mas não consigo mesmo. Essas características costumam ser levadas para todos os campos da vida: se você é muito exigente e autocrítico, inevitavelmente será assim com os outros.

A autocompaixão pode ser desenvolvida mediante uma variedade de exercícios, bem como através da psicoterapia, e aprender a aceitar nossas imperfeições e reconstruir nossas autocríticas é um exercício para aumentar sua autocompaixão. Experimente defrontar sua autocrítica como uma crítica dirigida a um(a) amigo(a): se suas palavras são muito duras para quem lhe é querido(a), então provavelmente também as são para si. 

Segundo Kristin Neff, autora do livro Autocompaixão, essa prática segue três pilares: 

  • benevolência ou autobondade: que consiste em ser gentil e bondoso(a) consigo em contraponto à autocrítica. Você assume uma postura de compreensão, paciência e aceitação, neutralizando sentimentos negativos e ressignificando os eventos estressores;
  • humanidade comum e senso de humanidade compartilhada: a capacidade de identificar que o sofrimento, a frustração e a inadequação pessoal não são castigos individuais, mas experiências comuns a todos;
  • e atenção plena (ou mindfulness): a percepção e aceitação do momento, da situação, dos seus sentimentos e pensamentos tal como são, sem tentar negá-los ou ignorá-los. Esse processo de reconhecimento da dor é muito importante por trazer a clareza de que o momento passará e a dor dará lugar a uma nova experiencia.

O primeiro passo para qualquer mudança é o reconhecimento. Reconhecer que precisa mudar algo em si é parte do processo de autoconhecimento. Lembre-se, porém, de manter seu coração aberto, sem rótulos, para realizar uma autoavaliação com bondade e carinho. Quando a autocobrança é racional e calculada, pode auxiliar a progredir psicologicamente; porém, quando mal calibrada, pode afetar seriamente a saúde mental.

Um ótimo exercício para praticar a autocompaixão é escrever uma carta sem medo de julgamento. Nela, registre tudo o que está sente, suas imperfeições, seus medos, os obstáculos que geralmente encontra no caminho, seus tamanhos e como se sente ao não conseguir ultrapassá-los. Quando tomamos consciência do que sentimos, mudamos e nos tornamos mais compassivos.

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