O trauma e o cigarro eletrônico

Por Daniele Rodrigues

A maioria das pessoas começam a fumar na adolescência por incentivo de amigos e influência familiar, mas é muito comum que nas situações de difícil administração do estresse esse consumo seja acentuado. Em casos mais extremos, pode ocorrer recaída ao vício nos momentos de maior instabilidade emocional, como no recebimento de notícias de óbitos, doenças graves, acidentes e divórcios, isto é, em eventos traumáticos. Nessas situações, o sistema nervoso simpático é ativado, gerando uma série de desregulações no organismo, tais como medo intenso, desamparo, perda do controle, confusão mental e sintomas físicos. É quando surge a necessidade de autorregulação e busca pelo prazer, incitando o fumo. A nicotina gera este prazer, trazendo a sensação de calma necessária ao momento.

No tabagismo, além de gerar uma dependência química, também há uma dependência psicológica ocasionada pelas crenças limitantes que se fortaleceram ao longo da vida e pela associação do cigarro a outros hábitos e alimentos. Por essa razão, o abandono desse vício é ainda mais desafiador, podendo somente ser considerado um ex-tabagista após 12 meses sem o uso.

É muito comum ouvirmos que o cigarro gera sensações de empoderamento, independência, segurança e status. Na realidade, o que mais faz é esconder uma grande fragilidade emocional e dificuldade de enfrentar situações difíceis, servindo como um amigo, conselheiro, um fiel escudeiro, estando sempre presente.

E na atualidade, o cigarro comum foi facilmente trocado pelo cigarro eletrônico. Também conhecidos como vape, vaper, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar e até heat not burn (tabaco aquecido), possuem quantidades variáveis de nicotina e outras substâncias tóxicas, tornando suas emissões prejudiciais tanto para quem faz o uso direto quanto para quem é exposto aos aerossóis (igualmente aos cigarros comuns).

O agravante do cigarro eletrônico, porém, encontra-se na sua acessibilidade, aumentando deliberadamente o consumo visto que possui variedade de sabores (até mesmo adocicado), o que torna o paladar mais receptivo ao hábito. Sem contar que os pais muitas vezes não percebem se tratar de um cigarro, no caso de filhos mais jovens, e o vício já está instalado.

Por isso, o abandono do vício somente com o uso de medicamentos ou adesivos não é totalmente eficaz. O ideal é unir uma equipe multidisciplinar e trabalhar com processos grupais que favoreçam o estabelecimento de vínculos, troca de experiências comuns, sensação de pertencimento e suporte emocional para as dores da alma, pois uma ação coletiva acolhe e faz com que haja mais sucesso na mudança de hábitos e estilo de vida. Neste sentido, existem várias técnicas eficazes que podem ser utilizadas, principalmente quando combinadas.

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