O trauma e a terapia EMDR

Por Juliana Riscala

Antes de falar sobre a terapia EMDR, gostaria de explanar um pouco sobre o trauma. Segundo o dicionário, existem três definições: na Medicina, trata-se de qualquer lesão ou perturbação produzida no organismo por um agente exterior acionado por uma força. Pode ser um traumatismo, uma contusão. No entanto, para a Psicologia, é um acontecimento emocionalmente doloroso que torna o sujeito particularmente sensível em situações similares.

Estima-se que 90% da população mundial já sofreu um evento potencialmente traumático ao longo da vida. Milhares de pessoas passam por experiências traumáticas inesperadas diariamente, mas cada uma tem sua própria reação a elas. Um sujeito pode sentir medo e se impressionar, por exemplo, enquanto outro na mesma circunstância se sente assustado, mas grato por permanecer vivo. Reações como essas após vivenciar situações traumáticas é completamente normal, pois são temporárias e desaparecem com o tempo. No entanto, quando isso não ocorre nem há recursos psicológicos suficientes para enfrentar a situação, surge o trauma. E, normalmente, após um trauma psicológico intenso, um sujeito não consegue retornar ao seu estado psicológico habitual.

Quando ocorre a vivência de uma experiência dolorosa, forma-se o que chamamos de memória traumática, caracterizada pela soma de emoções, imagens, sons e sentimentos vivenciados no momento do trauma. Essas memórias não foram processadas devidamente e permanecem isoladas, não se juntando ao restante das nossas memórias adequadamente. No cotidiano, o acesso à memória traumática ocorre por meio de ‘gatilhos’, ou seja, situações que disparam memórias e nos faz reviver determinada situação traumática, trazendo à tona dor e sofrimento. Essas memórias atrapalham nosso funcionamento psicológico, causando sofrimento no presente, como ansiedade, baixa autoestima, problemas de relacionamentos, problemas sexuais, entre tantos outros.

Mas o que EMDR tem a ver com trauma psicológico? Tudo. EMDR é uma sigla em inglês para o nome Eye Movement Desensitization and Reprocessing, isto é, Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares. Trata-se de uma técnica inovadora capaz de transformar a vida de um paciente em poucas sessões. Desenvolvida nos Estados Unidos ao final dos anos 1980 pela doutora Francine Shapiro, foi extensivamente pesquisada e demonstra eficácia no tratamento de traumas.

Aprovada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), A EMDR é uma técnica muito viável para o tratamento de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e tem em vista estimular os hemisférios cerebrais onde as lembranças dolorosas são armazenadas. Enquanto o terapeuta aplica os estímulos bilaterais, também conduz o paciente e o auxilia a relembrar a experiência traumática, guiando o cérebro de modo que reprocesse o trauma e deixe-o no passado. 

Um dos objetivos da terapia EMDR é encontrar as conexões entre os sofrimentos atuais e as memórias que não foram devidamente processadas, para então ser possível ressignificá-las. Quando isso acontece, os sofrimentos podem ser eliminados ou significativamente diminuídos e lembrar não será mais doloroso como era antes. Assim, os eventos que costumavam ser traumáticos poderão deixar de ‘bloquear’ a vida presente e futura do paciente.

A terapia EMDR tem resultados positivos nos casos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), ansiedade, depressão, luto, fobia, abuso sexual, problemas sexuais, dores crônicas e suporte psicológico em desastres naturais.

Para quem já tentou a terapia tradicional e percebe que continua reagindo às experiências traumáticas da mesma maneira, considerar a terapia EMDR pode ser uma boa opção. Lidar com memórias em terapia é um ato de coragem e de disposição para mudar o que hoje te faz sofrer.

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