Por Gabrielle E. R. Gomes
Ao falar em tarô (ou tarot), a primeira referência que vem à mente da maioria das pessoas é um jogo de cartas puramente divinatório, capaz de revelar tendências futuras ou adivinhar situações passadas, mas essas concepções não são as mais adequadas à atualidade. Os avanços dos termos psicológicos facilitaram a explicação dos processos internos a um leigo. No livro Jung e o Tarô, a autora Sallie Nichols relata que a ferramenta passou a se associar à linguagem junguiana (Carl Gustav Jung, médico psiquiatra, precursor da Psicologia Analítica) e removeu parte considerável do misticismo que a permeia. Um processo semelhante também ocorreu com a astrologia. E, embora de fato ‘leia’ o campo vibracional do consulente, o verdadeiro objetivo sempre foi o autoconhecimento, razão pela qual tem sido continuamente reestruturado e aplicado em atendimentos terapêuticos.
Um dos motivos pelo qual é muito utilizado é devido à sua linguagem visual rica em simbolismos e arquétipos que abrangem uma gama de experiências humanas, desde emoções profundas até desafios e potenciais ocultos, mas de fácil entendimento. Cada carta revela nuances da personalidade, valores, crenças limitantes, padrões comportamentais de autossabotagem e áreas de conflito interno que contribuem aos problemas emocionais, e a análise desses aspectos que o(a) consulente pode ou não ter consciência promove novas perspectivas e autorresponsabilidade. Todas possuem significados diferentes, mas a combinação entre cada uma favorece narrativas adicionais que representam desde aspectos mais profundos até questões cotidianas, aliada a práticas que enriquecem a leitura. Na prática, isso permite que o(a) consulente acesse suas emoções de maneira não-verbal, profunda e intuitiva, facilitando a evocação e o processamento de sentimentos, memórias e emoções que não podem ser facilmente acessadas mediante conversas convencionais.
A carta da Morte, por exemplo, não representa necessariamente uma morte física, mas o fim importante de um ciclo ou de uma situação para dar lugar a algo novo e transformador. E, se aparece em uma tiragem, pode indicar o término de um relacionamento, demissão e até velhas formas de pensar ou ver o mundo. Por sua vez, a carta do Eremita simboliza a busca interior, a solidão voluntária e a sabedoria adquirida através da introspecção, e sugere um período de recolhimento e reflexão profunda, onde se busca respostas dentro de si e se conecta com sua própria luz interior. Ambas, posicionadas lado a lado, indicam que o consulente está passando por um momento de profunda transformação pessoal, onde a Morte indica o fim de uma fase importante e o Eremita sugere que esse processo será de profunda introspecção e busca interior. Em outras palavras, o consulente está se libertando de antigos padrões de comportamento, crenças limitantes ou situações que já não lhe servem mais para mergulhar em si, buscando compreender suas próprias motivações, valores e desejos.
Em circunstâncias onde há a necessidade de enfrentar decisões importantes, o tarô também oferece percepções alternativas sobre tal momento de vida, por vezes ainda desconhecidas, auxiliando a considerar diferentes caminhos e avaliar prós e contras para uma decisão mais alinhada aos valores e objetivos do(a) consulente. Esse movimento, para alguns, desperta maior sensação de capacidade e autorresponsabilidade pela sua própria jornada, fortalecidos com coragem e determinação. Para outros, porém, assustados e/ou intimidados diante de questões profundas e/ou desafiadoras reveladas nas cartas, é necessário acolher, orientar e focar na sua capacidade de fazer escolhas, explorar opções e agir. Vale reforçar que, nesse caso, as tiragens não indicam quando, como ou o que o(a) consulente deve ou não realizar, tampouco substitui a psicoterapia tradicional, embora seja um complemento interessante ao processo terapêutico. Em todas as ocasiões, o livre arbítrio individual é respeitado, cuja decisão final cabe somente ao(à) cliente.
Isso reforça a importância do entendimento sobre cada uma das cartas, dos seus significados e simbolismos por variarem segundo posicionamentos, perguntas, cartas complementares ao redor, perguntas e contextos. A posição de cada carta na tiragem também é crucial para sua interpretação, podendo influenciar cartas do passado e do futuro, indicando uma continuidade ou mudança na situação, por exemplo.
A grande beleza do tarô reside justamente em recontar a quem o busca uma perspectiva completamente nova, abrangente e integradora sobre a vida do(a) consulente, não se limitando às velhas concepções místicas e irreais, nem abraçando somente os conceitos da psicologia analítica e arquetípica em vista a trazer uma seriedade à prática. As cartas tampouco abraçam uma vertente cultural ou religiosa, como o xamanismo ou o hinduísmo, embora possa pertencer e existir nelas e o tarô de Marselha (tido como o tradicional) agrega elementos e conceitos das mitologias grega, egípcia e medieval. A riqueza está na união com outras técnicas terapêuticas (como a cristaloterapia, aromaterapia e fitoterapia) e ferramentas (como a astrologia, numerologia e a cabala), favorecendo uma união sadia entre diversos aspectos da alma em um ser pleno e curado.
Dessa maneira, o homem, já conhecido como sendo biopsicossocial, a neurociência, a partir da epigenética, vem nos mostrando nos mais diversos estudos científicos que faz, a influência da espiritualidade na nossa constituição física e mental, impactando de maneira considerável no jeito de se comportar na sociedade. Diante disso, baixar as barreiras da resistência, explicadas tão bem por Kurt Lewin (psicólogo alemão criador da Teoria de Campo), só evidencia que o nosso perfil comportamental influencia diretamente no ambiente inserido e vice-versa. Quando nos abrimos para mais conhecimentos, ampliamos nossa visão e proporcionamos conexões entre os diferentes saberes que possibilitam multifacetas para o autoconhecimento, consequentemente no autodesenvolvimento, tornando a nossa sociedade um lugar mais fácil de se viver, isto é, emocionalmente mais equilibrado e saudável.