Desenvolvimento sexual, trauma e sexualidade

Por Helen Hampf

É perceptível, apenas ao mencionar a palavra ‘trauma’, as restrições de fala e comportamento que bloqueiam as possibilidades de experimentar e descobrir sensações em decorrência de experiências emocionais desagradáveis que permanecem na mente do indivíduo. E a palavra ‘sexualidade’ é um tabu ainda maior pelo manejo do tema e dos contextos culturais, originadas tanto de um passado com poucas abordagens, quanto no presente com excesso de informações truncadas, e assim nos desenvolvemos sexualmente com desequilíbrio de informações a cada geração.

De fato, há vários obstáculos a serem ultrapassados para se chegar em uma resposta de libido correspondida e com prazer. Como, por exemplo, o conhecimento da anatomia e fisiologia, o ciclo de desenvolvimento no qual o(a) parceiro(a) está, as transformações durante gestação e puerpério, a orientação sexual, os transtornos, compulsões e abusos, as infecções sexualmente transmissíveis, as disfunções, a lei, religião e a mídia, os psicofármacos, a educação e a prevenção em saúde sexual. Temos, enquanto sociedade, um longo caminho a percorrer e, aqui, neste momento, a oportunidade de desmistificar o tema e melhorar nossa saúde corporal e íntima.

As primeiras queixas recebidas em consultório são sobre a ausência de libido e o não orgasmo. Mas, antes de nos aprofundarmos nisso, é necessário saber o porquê de nós, seres humanos, sermos seres sexuados.

A natureza é sábia, e é através da descarga orgástica que aliviamos o estresse, retirando todos os ‘nós’ da garganta e apertos no coração. Durante a sensação de prazer sexual, libera-se dopamina, assim como durante a prática de atividade física, meditação ou quando nos alimentamos com algo apetitoso. A dopamina é o neurotransmissor responsável por enviar informações para várias partes do corpo, e, quando liberada, provoca sensações de prazer e aumenta a motivação. O contato sexual, a alegria e o amor são condições favoráveis para liberação deste hormônio. Durante o processo de orgasmo, ocorre a dilatação dos poros, liberação das toxinas do organismo e, por conseguinte, alívio das marcas de expressões e liberação de ocitocina, responsável por promover afeto e relaxamento. 

Como temos um objetivo, ou seja, ter libido e chegar ao orgasmo, é necessário transformar uma meta de longo prazo em pequenas metas de curto prazo, e assim promovemos um aumento de dopamina ao longo do caminho. O processo de desenvolvimento sexual dura a vida toda, pois cada pessoa é resultante da relação do que herdou e do que adquiriu; há programação, não determinação. E, se você passa por dificuldades sexuais, alegre-se: você não está condenado, mas sim precisa se permitir conhecer mais a respeito dos processos que auxiliam a retomada do prazer.

Aqui, neste espaço, iniciamos um processo maravilhoso de autoestima e aprendizado ligado à sexualidade e aos relacionamentos humanos, tanto afetivos quanto sexuais. Não podemos esquecer que o cérebro é o principal agente da excitação, da estimulação, do comando químico, e responsável pelas respostas hormonais e fisiológicas.

O cérebro é a fonte de todo prazer, mas também o causador de parte considerável das dificuldades, tendo em vista a resposta do indivíduo à educação, à pressão da sociedade, à informação (ou falta dela), aos parâmetros morais de cada época e eventual envolvimento emocional, bem como resposta psicológica à formação de cada um. E, justamente por esse motivo, a educação e a informação, binômio definitivo na esfera sexual, são as ferramentas indicadas para superar não apenas a disfunção orgásmica e a anorgasmia, como outras tantas barreiras para uma vida afetiva, sexual e social adequada, válida e satisfatória.

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