Por Ceres Canali
A sexualidade humana é uma dimensão multifacetada que engloba aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais. As disfunções sexuais, conforme descritas no DSM-5R, representam desvios da normatividade sexual, caracterizando-se por problemas funcionais que causam insatisfação e sofrimento, comprometendo o bem-estar individual. No entanto, surge uma questão crucial: como definir ‘normalidade’ em termos sexuais?
Segundo Serapião (1977), a normalidade sexual é determinada por atividades sexuais que são mutuamente agradáveis e respeitosas, sem exploração ou degradação. Por outro lado, disfunção sexual refere-se à insatisfação em relação às expectativas de prazer sexual.
O ciclo de resposta sexual, conforme descrito na literatura, inclui as fases de desejo, excitação, orgasmo e resolução. E as disfunções sexuais ocorrem quando há perturbações em uma ou mais dessas fases, resultando em dificuldades como dor, desconforto ou incapacidade de atingir o prazer sexual esperado. As mais comuns em mulheres incluem o transtorno da dor gênito-pélvica/penetração, vaginismo, transtorno do orgasmo feminino e transtorno do interesse/excitação sexual feminino. Nos homens, destacam-se a ejaculação retardada, transtorno erétil, transtorno do desejo sexual masculino hipoativo e ejaculação prematura.
Tais disfunções não afetam apenas a saúde sexual, mas têm também implicações significativas para a saúde mental e física, configurando-se como um problema de saúde pública devido à alta prevalência e impacto negativo na qualidade de vida. Estudos indicam que a etiologia dessas disfunções é frequentemente multifatorial, envolvendo uma interação complexa entre fatores orgânicos e psicogênicos, o que torna o tratamento um desafio.
É fundamental diferenciar entre disfunções sexuais e inadequações sexuais. As inadequações sexuais referem-se a desconfortos que, embora não patológicos, podem causar insatisfação. Exemplos incluem discordâncias sobre a frequência das relações sexuais ou desconforto com fantasias sexuais específicas. Tais inadequações, embora não constituam comprometimentos clínicos do ciclo sexual, podem gerar tensões e insatisfações no relacionamento.
O conceito de normalidade sexual é, portanto, fluido, dependendo de uma negociação entre os parceiros, baseada em consentimento mútuo e respeito às expectativas individuais. A ausência de reflexão e diálogo sobre a experiência sexual pode contribuir para o desenvolvimento de dificuldades que, se não abordadas, podem evoluir para disfunções mais graves.
As disfunções sexuais exemplificam a interseção entre fatores biológicos e psicológicos na sexualidade humana. O DSM-5R oferece critérios para a identificação e classificação dessas disfunções, mas a normalidade sexual permanece complexa e subjetiva pois deve ser contextualizada nas expectativas e no bem-estar dos indivíduos envolvidos, reconhecendo a diversidade sexual como uma característica inerente à experiência humana. Assim, a reflexão contínua sobre a sexualidade é essencial para prevenir o surgimento de disfunções e promover uma vida sexual saudável e satisfatória.
REFERÊNCIAS:
ABDO, C. H. N.; FLEURY, H. J. Aspectos diagnósticos e terapêuticos das disfunções sexuais femininas. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 162-167, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v33n 3/a06v33n3.pdf.