Além da superfície metálica: relação de automóvel ‘pizera’ e trauma psicológico

Por Daniele Rodrigues e Lelo Havreluk

Há vários cuidados a serem tomados quando se compra um carro que mostra muito mais do que apenas o automóvel. Geralmente, se o preço do veículo está muito bom, é preciso redobrar a atenção: alguma coisa está errada. Entretanto, alguns proprietários nem se incomodam em admitir no anúncio que aquele carro é um ‘NP’ ou ‘pizera’. Mas, você sabe o que esse termos significam e qual a relação com traumas psicológicos?

Os carros NP ou carros pizera são aqueles que foram financiados, em alguns casos em nome de um ‘laranja’, mas que várias ou nenhuma parcela foi paga. Assim, ‘NP’ ou ‘NP Finan’ é uma sigla para ‘não pago’. Com o financiamento atrasado, restam dois caminhos para esses veículos.

O primeiro é totalmente lícito, pois o dono oferece seu veículo financiado e com parcelas em atraso (um autêntico carro NP ou carro pizera) por um valor baixo, ou para recuperar o que já gastou até ali com a entrada e as parcelas pagas, ou ainda com algum prejuízo. A ideia é que o novo comprador assuma e pague a dívida e resolva essa situação, que evidentemente negociará com o banco para que o negócio seja minimamente vantajoso. E, assim, todos levam vantagem: o vendedor do carro NP ou carro pizera se livra da dívida e recupera parte do que gastou, o banco recebe pelo financiamento concedido e o comprador fica com um veículo por um bom preço.

Mas, carro pizera também pode ser uma fria. Se o caso acima é a forma legal de comprar um carro NP ou carro pizera, muitas vezes o caminho pode ser mais tortuoso. Quando a dívida do carro se torna impagável, superando o valor do veículo, é que os problemas começam. Nesse caso, o carro é vendido por um preço muito abaixo, visto até como  ‘camarada’ já que não poderá ser transferido para o nome do novo proprietário por acumular dívidas demasiadamente altas e incabíveis no negócio. Geralmente essa negociação é oficializada em um cartório por meio de um contrato de compra e venda, sem envolver o Detran. Quando o cerco estiver se fechando, com o carro sem licenciamento ou com mandado de busca e apreensão, esse veículo será abandonado. Esse processo pode durar muito tempo, meses ou até anos, período pelo qual o carro NP ou carro pizera será usado sem muita dor de cabeça, motivo pelo qual muitos julgam o negócio vantajoso.

Mas é preciso entender que esse tipo de transação também envolve carros roubados ou uma rede de fraudes contra as instituições financeiras, não se limitando a uma infeliz consequência de uma dívida que não pôde ser honrada, como no caso de um cidadão ‘do bem’ e honesto que teve nas circunstâncias da vida algum contratempo que não pode sanar. Mas o que isso tem a ver com traumas psicológicos? Tudo!

O fato de alguém supostamente honesto, com boa índole e sem interesse em não pagar as parcelas financiar um veículo e não honrar com os seus compromissos terá essa situação transformada em um trauma pelo fato de não ter as condições financeiras idealizadas. O estresse que isso lhe acarretará poderá ser tanto um trauma simples quanto um trauma complexo a depender das condições em que estiver no momento.

Uma situação de desemprego para um pai de família que precisa cogitar a venda do veículo, por exemplo, pode ser um trauma de perda que mobilizará questões emocionais em torno de um desejo, sonho e afeto que estará sendo desfeito. Além disso, essa frustração poderá acarretar em um sentimento de humilhação diante da família de não conseguir prover e arcar com melhores condições. E, nesse caso, adentrará num contexto de luto mesmo diante do seu bem.

Mas, tratando-se de alguém solteiro e que vive sozinho, somente o fato de precisar pedir ajuda aos seus familiares e/ou a possibilidade de ouvir críticas por ter se comprometido com um financiamento sem ter as condições de manter o compromisso poderá gerar um trauma. Nesse caso, despertará um gatilho pela forma que foi criad e da sua história de vida. E caso tenha se sentido rejeitado e/ou abandonado anteriormente, seus sentimentos e momentos de vida também poderão sofrer uma ‘mistura’. Afinal, isso é o trauma: algo atual que provoca algo do passado, tornando uma grande teia problemática.

E se esse carro NP ou pizera realmente foi financiado em nome de uma pessoa ‘laranja’ com a finalidade real de não arcar com o compromisso? Nesse caso, trata-se diretamente do caráter e estrutura de personalidade de um indivíduo.

Existem três estruturas de personalidade: neurótico, psicótico e perverso. Todos nós, reles mortais, somos neuróticos; temos noção de certo e errado, sofremos, caímos e levantamos na caminhada da vida. Já os psicóticos são aqueles que não possuem a noção de realidade que deveriam, são pessoas com os transtornos mentais mais severos como se vivessem em uma ‘realidade paralela’. Eram, na maioria das vezes, os perfis internados nos antigos hospitais psiquiátricos. Já os perversos são aqueles que possuem noção de certo e errado, mas usam a realidade a seu favor, manipulando cada pessoa segundo sua necessidade mesmo tendo ciência de gerar sofrimento ao outro. Afinal, o sofrimento é dele, não seu. Nesse caso, os perversos vivem livremente na sociedade, muitas vezes ao nosso lado sem percebermos: estão em cargos políticos, grandes líderes religiosos, em grandes multinacionais, inclusive nos presídios. Isso porque o perverso busca o que quer, custe o que custar. São reconhecidos como pessoas influentes, bem sucedidas e comprometidas com resultados.

Com esse pensamento acerca das estruturas de personalidade, independentemente de qual delas seja, um simples carro NP ou carro pizera também envolve todo este cenário. A egrégora por si só é pesada, emocionalmente, energeticamente e até fisicamente. Não sabemos as circunstâncias envolvidas em cada situação, em cada pessoa envolvida. Se o veículo faz parte de alguma ação ligada a fraudes e facção criminosa, daí sim a questão se torna mais complexa e muito mais pesada, repleto de traumas psicológicos de todos os tipos e escalas de sofrimento existentes.

Vale ressaltar que comprar um carro com dívidas não é ilegal, mas existe um prazo para solucionar o problema e transferir o veículo. O comprador de um carro NP ou carro pizera que for identificado, se comprovado má fé em casos de furto ou fraude, poderá ser responsabilizado por receptação. Neste caso, há o envolvimento de várias outras situações afetivas e emocionais que direcionam para análises psicológicas e psiquiátricas mais profundas, incluindo a vertente judiciária e criminal, sendo conteúdo para um próximo artigo.

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