Por Sofia Scheidemantel Jacobsen
“A infância é um chão que pisamos a vida inteira.” Essa frase inspiradora de Lya Luft nos convida a refletir sobre a importância da criança interior, uma metáfora que representa a parte mais autêntica e vulnerável de nós mesmos, moldada pelas experiências da infância.
A infância é um período crucial de desenvolvimento no qual se estabelecem as bases da nossa personalidade, crenças e identidade. As interações com cuidadores, as experiências familiares e eventos significativos têm um impacto profundo em nossa formação. Absorvemos não apenas as experiências positivas, mas também as adversidades, cujos traumas podem deixar marcas duradouras, ‘congelando’ nossa criança interior em estados emocionais específicos que levam à criação de padrões de respostas.
A criança interior pode ficar presa em emoções como medo, tristeza ou raiva, influenciando nosso comportamento adulto e nossa capacidade de lidar com situações desafiadoras. E um tipo específico de trauma que merece atenção é o trauma de apego, que ocorre quando há uma falha ou perturbação significativa no desenvolvimento saudável das relações de apego durante a infância.
A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby e posteriormente expandida por Mary Ainsworth, destaca a importância de relações emocionais seguras e estáveis entre o cuidador principal e a criança. Quando o ambiente de cuidado é instável, negligente, abusivo ou inseguro, a criança pode experienciar traumas de apego. Isso ocorre porque o sistema de apego da criança busca proteção, segurança emocional e conforto através da proximidade com o cuidador. E se essas necessidades não são atendidas de maneira consistente, podem resultar em traumas psicológicos profundos.
Os efeitos do trauma de apego podem ser duradouros e impactar várias áreas da vida, incluindo relacionamentos, autoestima, regulação emocional, comportamento e saúde mental. Esses traumas podem levar a problemas como depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e dificuldades interpessoais.
Os traumas têm o poder de criar uma ‘lente’ através da qual percebemos nós mesmos e o mundo. Podem influenciar a forma como nos vemos em relação a merecer amor e aceitação, nossa capacidade de confiar nos outros e nossas expectativas em relação a relacionamentos. Traumas não resolvidos podem resultar em crenças negativas profundamente enraizadas, alimentando a autossabotagem, a autocrítica e a sensação de não pertencimento.
Compreender a relação entre a criança interior e os traumas é fundamental para promover a cura e o crescimento pessoal. Ao reconhecer o impacto profundo das experiências de infância em nossa vida, abrimos portas para a transformação e o bem-estar emocional.
REFERÊNCIAS:
BOWLBY, J. Uma base segura: apego entre pais e filhos e desenvolvimento humano saudável. [Tradução livre]. 1988.
AINSWORTH, M. D. S. Padrões de apego: um estudo psicológico da situação estranha. [Tradução livre]. 1978.