A relação entre TDAH e os traumas psicológicos

Por Sofia Scheidemantel Jacobsen

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é muito mais do que apenas ‘não conseguir prestar atenção’.  Caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade, se manifesta em três subtipos: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo, e combinado. Mas, como aponta Gabor Maté em seu livro Mentes Dispersas, o TDAH é uma condição complexa com raízes profundas em questões emocionais e traumáticas.

Maté destaca que o TDAH não é apenas um problema comportamental, mas sim um reflexo de como o cérebro funciona em relação à regulação emocional e ao controle da atenção. Experiências de estresse durante a gravidez, exposição a toxinas ou traumas na primeira infância podem afetar o desenvolvimento cerebral e contribuir para os sintomas.

Estudos indicam que o apego inseguro na infância, marcado por interações precárias com cuidadores, pode estar relacionado ao desenvolvimento do TDAH. A falta de um ambiente seguro e acolhedor pode impactar o desenvolvimento cerebral, a autorregulação emocional e o controle dos impulsos.

O TDAH também pode estar ligado a traumas de infância, especialmente quando há sintomas de dissociação, um mecanismo de defesa que causa desconexão de pensamentos, emoções e memórias. Traumas como abuso, negligência e separações podem desencadear respostas dissociativas, afetando a atenção, concentração e regulação emocional.

Para casos resistentes aos tratamentos tradicionais, o neurofeedback e o TDCS surgem como opções promissoras. Essas técnicas visam diretamente a atividade cerebral disfuncional, permitindo um tratamento personalizado e adaptativo. O neurofeedback utiliza a autorregulação neural, enquanto o TDCS aplica corrente elétrica de baixa intensidade no couro cabeludo, ambos com baixo risco e mínimos efeitos colaterais.

A terapia EMDR, por sua vez, é um tipo de psicoterapia que usa a estimulação bilateral através dos movimentos oculares, toques ou sons para ajudar a processar memórias traumáticas. Essa técnica pode ser especialmente útil para pessoas com TDAH que também apresentam sintomas de trauma e dissociação.

É fundamental lembrar que o TDAH é multifatorial e o tratamento deve ser individualizado. Com diagnóstico adequado, plano de tratamento personalizado e apoio familiar, é possível minimizar os impactos e maximizar o potencial de cada pessoa. Abordagens como neurofeedback, TDCS, EMDR e outras terapias, combinadas com a medicação quando necessário, oferecem novas perspectivas para o tratamento do TDAH, abrindo caminho para uma vida mais plena e funcional.

REFERÊNCIAS:

AINSWORTH, M. D. S. Padrões de apego: um estudo psicológico da situação estranha. Tradução livre, 1978.

BOWLBY, J. Uma base segura: apego entre pais e filhos e desenvolvimento humano saudável. Tradução livre, 1988.

MATÉ, G. Mentes dispersas: as origens e a cura do transtorno do déficit de atenção. Tradução livre, 2002.

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