Os efeitos neuropsicológicos da exaustão e do estresse no burnout e sua relação com os traumas psicológicos

Por Michele Beckert

O burnout tem sido cada vez mais reconhecido como um problema de saúde mental significativo, afetando milhões de pessoas ao redor do mundo. Caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal, o burnout resulta de estresse crônico não gerenciado. No entanto, os efeitos desse esgotamento vão além do cansaço psicológico, atingindo a estrutura e o funcionamento do cérebro. Além disso, há uma relação intrínseca entre burnout e traumas psicológicos, pois ambos envolvem respostas disfuncionais ao estresse e impactos neurobiológicos semelhantes.

O burnout afeta diversas áreas do cérebro, especialmente aquelas relacionadas à regulação emocional, resposta ao estresse e cognição. Algumas das principais alterações incluem: o hipocampo e a memória, a amígdala e a reatividade emocional, o córtex pré-frontal e tomada de decisão, e o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA).

Estudos indicam que o estresse crônico leva à atrofia do hipocampo, uma região essencial para a memória e o aprendizado. Isso pode explicar a dificuldade de concentração e os lapsos de memória frequentemente relatados por indivíduos com burnout. E a amígdala, estrutura envolvida na detecção de ameaças e na regulação das emoções, torna-se hiperativa sob estresse prolongado. Isso pode resultar em aumento da irritabilidade, ansiedade e dificuldade em processar emoções de forma saudável.

O burnout também compromete a função do córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, julgamento e controle emocional. Dessa forma, indivíduos afetados podem apresentar dificuldades na tomada de decisões e menor capacidade de autorregulação emocional. E a ativação crônica do eixo HHA leva ao excesso de liberação de cortisol, o hormônio do estresse. Embora essencial para a resposta de luta ou fuga, níveis elevados e sustentados de cortisol podem resultar em fadiga extrema, desequilíbrio imunológico e aumento da vulnerabilidade a transtornos psiquiátricos.

Há uma sobreposição significativa entre os efeitos do burnout e os traumas psicológicos, pois ambos envolvem padrões disfuncionais de resposta ao estresse. Traumas passados podem predispor um indivíduo ao desenvolvimento de burnout, enquanto o estresse crônico do burnout pode desencadear respostas semelhantes às do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Pessoas que vivenciaram traumas podem ter um sistema nervoso hiperativo, o que aumenta a sensibilidade ao estresse ocupacional e acelera o desenvolvimento do burnout.

A despersonalização, um dos critérios diagnósticos do burnout, também é uma resposta comum a traumas, funcionando como um mecanismo de defesa diante da sobrecarga emocional. A Teoria Polivagal de Stephen Porges sugere que o burnout pode resultar de uma oscilação entre estados simpáticos (hiperativação) e dorsovagais (colapso), características também observadas em pessoas traumatizadas.

Dado que o burnout e os traumas psicológicos compartilham bases neurobiológicas, abordagens terapêuticas devem considerar intervenções que auxiliem na regulação do sistema nervoso. Algumas estratégias eficazes incluem terapias baseadas no corpo, como a Experiência Somática e EMDR, que ajudam a processar traumas e restaurar a autorregulação; e exercícios de regulação autonômica, como respiração diafragmática e Mindfulness, que reduzem a ativação simpática e promovem o retorno ao estado ventrovagal de segurança.

Além disso, outros fatores mais práticos à vida cotidiana, mudanças no estilo de vida, incluindo sono adequado, alimentação balanceada e práticas de relaxamento, para mitigar os impactos do estresse crônico; e apoio social e conexão emocional, são fatores essenciais para reverter os efeitos do burnout e reconstruir a sensação de segurança psicológica.

Portanto, o burnout não é apenas uma questão de esgotamento mental, mas sim um fenômeno complexo que envolve alterações neuropsicológicas profundas. Sua relação com traumas psicológicos ressalta a importância de compreender a interação entre estresse crônico e respostas emocionais. O desenvolvimento de estratégias integrativas, que abordam tanto os aspectos psicológicos quanto neurobiológicos, é essencial para a prevenção e recuperação desses quadros, promovendo uma saúde mental mais equilibrada e resiliente.

Subir