Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) em humanos e não-humanos

Por Erika Zanoni Fagundes Cunha

O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um transtorno psiquiátrico crônico causado por obsessões ou compulsões capazes de causar sofrimento em seres humanos. E, nos animais, não é diferente.

Com relação à neuroanatomia animal, existem fortes evidências de que alterações em circuitos centrais, especificamente nos gânglios de base, lobos frontais e tálamo, desempenham papel importante no seu surgimento. Os sinais obsessivos compulsivos dos humanos podem ser explicados à luz da biologia evolutiva e compreendidos quando comparados aos comportamentos dos animais não-humanos. Segundo Oliveira, Rosário e Miguel (2007), estes são divididos em:

  1. rituais de limpeza (grooming), que servem para realizar a limpeza, manutenção do pelo e no controle da temperatura corpórea e de infecções. Animais com TOC podem apresentar um excesso desse ritual e podem inclusive ferir a pele, como o comportamento de catação excessiva nos primatas;
  2. sinais de verificação (checking), onde a verificação e guarda de limites são os sinais mais frequentes. São sinais de zelo com o próprio corpo. A vantagem desse comportamento estaria em diminuir as invasões de predadores;
  3. rituais de colecionismo, que representa o acúmulo de objetos, cuja vantagem está no fato de estar sempre preparado para uma adversidade.

As estereotipias do TOC são caracterizadas pela repetição de movimentos que, aparentemente, não têm nenhuma função ou valor adaptativo. Padrões rígidos e repetitivos de andar de um lado para o outro em zoológicos, por exemplo, cavalos que mordem as baias, macacos com excesso de catação, aves que arrancam suas penas e automutilações em geral são rituais compulsivos desempenhados para aliviar a ansiedade em certas circunstâncias (BRANDÃO; GRAEFF, 2014).

As estereotipias foram descritas pela primeira vez em seres humanos com distúrbios neurológicos e em indivíduos que permanecem isolados em prisões durante muito tempo. Movimentos repetitivos aparecem em situações em que o indivíduo não tem controle sobre seu ambiente, especialmente naquelas que são obviamente frustrantes, ameaçadoras ou severamente carentes de estímulo. Sua generalizada ocorrência em animais confinados é de grande importância em relação à avaliação do bem-estar. 

Animais em geral também apresentam comportamentos estereotipados e automutilação em virtude de um ambiente pouco atrativo. O aumento do autodirecionamento (catação, lambedura, toque e coçar) em animais, serve como indicador de estresse e ansiedade.

Os animais possuem necessidades físicas e psicológicas e podem desenvolver transtornos mentais em resposta à baixa qualidade de vida. Quando impedidos de executarem seus comportamentos naturais, podem desenvolver prejuízos para sua saúde mental. Esses comportamentos, quando totalmente fora do contexto, podem tornar-se excessivos ao ponto de lesionarem a pele e causar debilidade. Trata-se, portanto, de um transtorno que possui tratamento com psicofármacos e terapia comportamental, mas também demanda colaboração dos seus tutores com o enriquecimento do ambiente onde está inserido.

 

REFERÊNCIAS:

REIS, F. M. C. V. et al. Hormonal changes and increased anxiety-like behavior in a perimenopause-animal model induced by 4-vinylcyclohexene diepoxide (VCD) in female rats. Psychoneuroendocrinology, v. 49, p. 130-140, 2014.

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