Por Erika Zanoni Fagundes Cunha
Atualmente, numa visão mais abrangente, os animais são considerados seres sencientes, ou seja, capazes de perceber e sentir emoções tais como raiva, medo, alegria e compaixão. E a exposição a eventos estressantes poderá resultar no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, assim como ocorre com seres humanos.
Há uma urgência em se a reconhecer a importância do diagnóstico de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) em animais, já que estes possuem uma alta prevalência de exposição a eventos traumáticos como acidentes, abuso, tráfico e violência física. Esse é um transtorno de ansiedade precipitado por um trauma que representa a experiência de situações emocionalmente dolorosas e angustiantes que sobrecarregam a capacidade de adaptação ou enfrentamento de um animal sobre as quais é impotente.
Os primeiros relatos de animais utilizando a nomenclatura de TEPT são de cães que atuaram em guerra. Esses animais apresentavam os mesmos sinais clínicos e alterações de comportamento observados em veteranos, revelando que o estresse precoce está relacionado ao desenvolvimento de psicopatologia durante a vida adulta, uma vez que o sistema nervoso desse filhote poderá se desenvolver com alterações. Experimentos em etologia realizados com Rhesus (Macaca mulatta), por exemplo, causaram lesões neurais observadas em crianças vítimas de abandono pelos pais. E estudos pré-clínicos anteriores, com modelos animais com privação maternal, provocaram o estresse pós-trauma em primatas não humanos, que apresentaram sinais ansiosos durante toda a sua vida.
Para receber um diagnóstico de TEPT, o indivíduo deve vivenciar um evento traumático que produza sentimentos de medo intenso, horror ou impotência. Uma vez que esse critério seja atendido, os indivíduos devem ultrapassar um limiar de sinais para cada um dos três grupos de sinais clínicos: reestimulação, evitação e hiperexcitabilidade. Esse quadro pode haver alterações cognitivas, principalmente relacionadas à memória, e tais momentos vividos podem aparecer durante o sono ou nos pensamentos ao decorrer do dia.
Em outras pesquisas com animais, verificou-se também que as memórias emocionais se fixam mais fortemente que as neutras e o valor adaptativo é uma resposta revivendo o trauma. Isso indica que, quando acuado, um animal se recordaria das outras ocasiões em que se sentiu e/ou foi ameaçado e das estratégias defensivas que utilizou com sucesso.
O tratamento deste transtorno se dá por meio de psicofármacos, terapia comportamental e manejo do ambiente, onde o médico veterinário psiquiatra realiza o tratamento. É comum recorrer a vários petiscos, interação com estranhos e proporcionar uma lenta reintrodução aos locais que relembram o trauma para auxiliar a moldagem de novas respostas comportamentais.
Em conclusão, há uma necessidade de maior número de estudos para se conhecer os mecanismos que envolvem essa psicopatologia e as consequências do Transtorno do Estresse Pós-Traumático nos animais, sobretudo nossos queridos pets. Trata-se de um processo de sofrimento para ele, a família multiespécie e a equipe de médicos que atuam no tratamento das diversas comorbidades resultantes desse processo de estresse crônico. A psiquiatria animal deve ser mais divulgada entre os clínicos e tutores de animais.