Por Alana Águida Berti
O trauma esconde-se, e muito bem, no interior das pessoas e desperta quando menos se espera. Pode ser definido como uma situação que causa ferida física ou emocional, gerando desconforto e desestabilização, incidindo diretamente na qualidade de vida.
Várias são as formas de abordar o trauma, dependendo da gravidade e das condições peculiares de cada indivíduo, e a arteterapia tem se mostrado muito eficaz por utilizar as mais variadas técnicas artísticas para desvendar e acessar as emoções traumáticas.
A arte instiga a criatividade e esta, por sua vez, tem o condão de liberar sentimentos, bons ou ruins, usando linguagens diversificadas como forma de expressão. Como professora de Artes Visuais, lecionei pintura pela Fundação de Cultura de Navegantes, em Santa Catarina, e meus alunos eram basicamente crianças. Havia uma menina, a Luzia, com 12 anos, que nunca faltava às aulas e sua produção sempre foi muito interessante.
Como no seu horário não havia outros alunos, desenvolvemos uma boa amizade e a conversa fluía naturalmente, até que um dia perguntou se eu tinha medo de dormir no escuro. Respondi que não e devolvi o questionamento, ao que ela disse haver um monstro embaixo da sua cama que toda noite vinha assombrá-la.
Aproveitando a deixa, sugeri que representasse o seu quarto em uma produção: desenhei uma cama “de perfil” e, sobre ela, um edredom, pedindo que pintasse como quisesse e apenas o edredom fosse colorido. Embaixo da cama, pintou de preto, e dali saíam dois enormes olhos vermelhos, tão vermelhos que até brilhavam e causavam arrepios. Porém, adicionou um par de asas vindo do alto da folha sobre a cama.
Conversado sobre o desenho, contou que um primo costumava lhe dizer que embaixo da cama existia um monstro, mas havia se esquecido desse fato. Na semana seguinte, ao indagá-la, o monstro “tinha ido embora” e agora já dormia bem e durante a noite toda.