O trauma e a odontologia

Joyful small redhaired female kid points at tooth, closes eyes and laughs happily, has bun knot, wears loose striped sweater, poses against rosy background, prepares for going to kindergarten

Por Cintia Baek

Segundo o dicionário, a palavra ‘trauma’ pode ser definida como perturbações causadas por lesões físicas ou experiências emocionais desagradáveis que ficam marcadas na mente de um indivíduo. O trauma dental, especificamente, é um problema que pode ter um impacto físico, estético e psicológico, não apenas na criança e adolescente, mas também em toda a família, e, por causar sofrimento físico e emocional, interferir negativamente nas relações sociais e na qualidade de vida (GALVÃO, 2017).

O trauma dental pode ser observado mais na Dentição Decídua, isto é, dentição de leite, quando comparada à dentição permanente, e ocorre próximo da idade pré-escolar, podendo atingir em média 36,8% das crianças. Nesta fase, as características comportamentais como curiosidade e inquietação, que a levam a explorar o ambiente escolar sem possuir uma coordenação motora suficiente para evitar quedas e promover autoproteção. Assim, torna-se frequente a ocorrência desse tipo de lesão (COSTA, 2014).

 O trauma dentário em crianças se dá, principalmente, nas escolas (32%) ou na própria casa (38% dos casos), com maior incidência na idade de três anos e meio, acometendo os dentes superiores e anteriores, principalmente os incisivos centrais e superiores. As consequências podem variar desde uma simples fratura até o deslocamento total do elemento dentário do alvéolo, ou avulsão, sendo este um dos eventos que provocam maior apreensão aos pais e aos acidentados, principalmente quando o dente envolvido é o permanente.

O atendimento emergencial para dentes traumatizados é fundamental ao sucesso do tratamento, e a falta de preparo tanto da população quanto dos profissionais da área da saúde em lidar com o primeiro atendimento requer bastante atenção. Não é somente uma criança que vive uma situação inesperada ao sofrer um traumatismo dental, mas seus pais também. Todos se encontram igualmente assustados e temerosos, além do agravante da preocupação e medo aos genitores. E, de fato, o profissional que os atenderá deve estar preparado para lidar com esse contexto.

Devido ao nível de envolvimento dos pais nos casos de traumatismos, além de se preparar tecnicamente para o atendimento e realizar o condicionamento do paciente, por vezes, o profissional também necessita ter sensibilidade para trabalhar os sentimentos dos pais. O atendimento de uma criança com traumatismo dental é muito mais profundo que um exame intrabucal, envolvendo também alterações de comportamento. Portanto, um trauma em uma criança envolvendo seus dentes e sua face não é traumatizante apenas fisicamente, mas também emocional e psicologicamente. 

Apesar das sequelas emocionais serem mais agravantes devido à dificuldade em defini-las e causarem danos por tempo indeterminado, também são pouco estudadas. Há quem acredite não possuírem importância. Ou, ainda, que os pesquisadores não se interessam pelo campo, atendo-se somente às técnicas, sem saber como nem o que fazer com as evidências que constatarem. Fato é que a medicina já comprovou que a mente é determinante no desenvolvimento e na cura de doenças, e o traumatismo na dentição decídua deixa sequelas tanto físicas quanto emocionais.

E, enquanto as físicas são amplamente estudadas, as emocionais são raramente abordadas. Por isso a necessidade de sempre olhar o paciente na sua totalidade, não apenas como um dente, um órgão, um mero paciente, mas como um ser humano com medos, sonhos, dificuldades e inseguranças, parte de uma família igualmente humana.

 

REFERÊNCIAS:

COSTA, Luciana Ellen Dantas et al. Trauma dentário na infância: avaliação da conduta dos educadores de creches públicas de Patos-PB. Revista de Odontologia da UNESP, v. 43, p. 402-408, 2014.

GALVÃO, Anna Karyna Fernandes de Carvalho et al. Prevalência de traumatismos dentários em pacientes com distúrbio neuropsicomotor: estudo controlado. Revista de Odontologia da UNESP, v. 46, p. 351-356, 2017.

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