O uso da hipnose na Odontologia

Por Cintia Baek

Ainda é um grande desafio para o cirurgião-dentista lidar com a tensão e o medo dos pacientes que chegam ao consultório. A Hipnose é mais um procedimento que pode auxiliar tanto o paciente como o cirurgião-dentista no tratamento odontológico, podendo ser utilizado principalmente na diminuição da dor e do medo dos pacientes.

A hipnose é um estado especial de consciência, intermediário entre o sono e a vigília. É o estado particularmente modificado de consciência onde a pessoa está apta para receber sugestões benéficas para o seu bem-estar e desempenho. Nesse estado, o lado direito do cérebro, que trabalha a imaginação, é ativado, enquanto o lado esquerdo, mais racional, se relaxa. Na hipnose, a mente consciente permite a indução, deixando que a mente inconsciente se manifeste (SEIXAS, 2008).

Segundo William T. Heron, a hipnose “é e deve ser considerada como um fenômeno psicológico natural, e o papel do hipnotista é, simplesmente, o de um instrutor ou professor que auxilia o paciente a realizar o estado de hipnose” (HERON, 1958, p. ; ALDEN, 2000, p. ). É um processo pelo qual passamos várias vezes ao dia, naturalmente. Sempre que adormecemos entramos num estado intermediário entre a vigília e o sono fisiológico, o qual chamamos de estado hipnótico. Hoje, os trabalhos científicos têm demonstrado e comprovado a sua utilidade em várias áreas, principalmente na área da saúde, e ainda tem sido pesquisada pela ciência, apesar de tão antiga. Há alguns anos, os cirurgiões-dentistas perceberam que poderiam utilizar da Hipnose para fornecer maior conforto, segurança e satisfação no atendimento odontológico. Com a utilização dessa ferramenta de trabalho, percebeu-se que se otimiza e acelera-se qualquer resultado de tratamento, reeduca-se o ritmo orgânico e aprimora-se a saúde e qualidade de vida.

O uso da hipnodontia foi normatizado no Brasil pelo Conselho Federal de Odontologia no ano de 1966, sob a lei nº 5.081. A partir de então, ela vem sendo utilizada para reduzir o medo, a ansiedade e a resistência dos pacientes, dentre outros sintomas. Os principais pontos positivos do uso da hipnose para o tratamento dentário são a não utilização de remédios anestésicos, que podem causar reações alérgicas, além do fato de que o tratamento realizado pode ser completamente indolor (WEISSMAN, 1958; FERREIRA, 2003; ZANOTTO, 2008).

A hipnodontia é utilizada para extrações dentárias sem dor; nos caso de eliminação de temores, ansiedade e qualquer objeção sobre o tratamento; na manutenção da comodidade durante longas operações; na adaptação às aparelhagens ortodônticas e protéticas; na prática operatória, onde se destacam a utilização como anestesia ou analgesia para intervenções desagradáveis; prevenção de vômitos e náuseas; controle da salivação e hemorragias; e na indução de relaxamento (MOSS, 1961; HAMMARSTRAND, 1995; RAMÍREZ-CARRASCO, 2017).

Quando hipnotizada, a pessoa percebe menos o exterior e focaliza as sensações internas, do próprio corpo. Nesse momento, a fisiologia das funções corporais se modifica, bem como a memória, a aprendizagem, o comportamento e o humor durante o transe, favorecendo o autoconhecimento, a compreensão e a mudança emocional. Este estado também propicia a ocorrência de diálogos entre a mente e o corpo, o consciente e o inconsciente, e os processos de autorregulação, autocura e autoconhecimento (ZANOTTO, 2008).

A hipnose consegue diminuir a salivação do paciente e até o sangramento, pois quanto menos stress, menos ansiedade, fluxo salivar e sanguíneo não se alteram. Também é importante dizer que uma vez autorizado pelo paciente, não há contra indicações da prática hipnótica pelo dentista por se tratar de um estado natural da mente. 

REFERÊNCIAS:

ALDEN, P., HEAP, M. Hypnotic pain control: Some theoretical and practical issues. Int J Clin Exp Hypnosis, 1998; 46 (1) Abstracts. Disponível na URL http://sunsite.utk.edu/IJCEH/abs.98.htm Acessado em 10/06/2000.

FERREIRA, M. V. C. Hipnose na prática clínica. São Paulo – SP: Editora Atheneu, 2003. 787 p.

HAMMARSTRAND, G.; BERGGREN, U.; HAKEBERG, M. Psychophysiological therapy vs. hypnotherapy in the treatment of patients with dental phobia. European Journal of Oral Sciences. Suécia, v. 103, n. 6, p.399-404, 1995.

HERON W.T. Aplicações clínicas da sugestão e da hipnose. Tradução A Dahis 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Monte Scopus, 23-40, 1958.

MOSS, A. A. Hipnodoncia o hipnosis en odontologia. Buenos Aires: Mundi, 1961.

RAMÍREZ-CARRASCO, A.; BUTRÓN-TÉLLEZ, C.; GIRÓN, O.; SANCHEZ-ARMASS; PIERDANT-PÉREZ, M. Effectiveness of Hypnosis in Combination with Conventional Techniques of Behavior Management in Anxiety/Pain Reduction during Dental Anesthetic Infiltration. Pain Research and Management. Mexico, v. 2017, article ID1434015, 2017.

SEIXAS, L. Hipnose: sem dor e sem anestesia. 2006. In: TERAPIAS complementares ganham espaço na Odontologia. Jornal do CFO, ano 14, n. 79, p. 8-9, jan./fev. 2006. ZANOTTO, K. T. O uso da Hipnose em Odontologia. Acesso em: 29 setembro 2020.

WEISSMAN, K. O Hipnotismo: Psicologia, técnica e aplicação. Rio de Janeiro: Prado, 1958.

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