Por Simone Silva
No espaço do consultório, é comum haver muitas perguntas como: por que ele agia tão amorosamente em um instante e arrasou meus sentimentos logo depois? Por que ela me achava talentosa e maravilhosa, mas me acusava de ser desprezível e a causa de todos os seus problemas? Se ele me amava tanto quanto dizia, por que me sentia manipulada e impotente? Como alguém tão inteligente e culto conseguia agir de modo tão irracional?
Você conhece alguém que está transbordando de felicidade em um minuto e, no próximo, fecha a cara? Ou alguém que, sem ao menos te dar uma chance para compreender o que houve, demonstra raiva, irritação e se afasta por ficar descontrolada após uma pequena mudança de planos? Que logaritmo é esse com tamanha desregulação emocional? Vamos mergulhar em um transtorno que há muito angustia parentes e o próprio sujeito, deixando-os sem entender o que acontece. Trata-se do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).
Afinal, o que o gera? Não há resposta simples para essa pergunta, uma vez que a maioria das pessoas desconhece as manifestações reais do problema. A imagem associada ao assunto é sempre de alguém extremista, dramático(a), manipulador(a), com pulsos cortados e ameaçando cometer um suicídio a todo ou qualquer instante. No entanto, é fato que a falta de conhecimento social para com aqueles que sofrem desse transtorno tende que sejam mal compreendidos ou não são motivados a buscar apoio profissional.
Existe um intenso debate em andamento sobre os fatores que podem contribuir para a manifestação dos sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Muitas pesquisas são conduzidas sob diversas óticas e sugerem uma etiologia multifatorial consistentemente, uma vez que nem todos os pacientes relatam traumas e negligências. Nesse sentido, Zanarini e Frankenburg (1997) postularam três fatores abrangentes: o primeiro deles é a vivência em um ambiente doméstico traumático e caótico, envolvendo separações precoces prolongadas, negligência, desarmonia emocional na família, insensibilidade aos sentimentos e às necessidades da criança e trauma em graus variados. O segundo é um temperamento vulnerável com base biológica. E o terceiro fator se relaciona aos eventos desencadeadores, como a tentativa de estabelecer uma relação íntima, sair de casa, experienciar um estupro ou outro evento traumático.
Certos tipos de temperamento com base genética podem aumentar a probabilidade de que ocorram eventos negativos na vida, de modo que há um efeito interativo em andamento entre os genes e o ambiente no desenvolvimento do transtorno (PARIS, 1998). Porém, qualquer um desses eventos podem agir como um catalisador para produzir a sintomatologia da condição borderline. Uma conclusão é que cada paciente pode ter uma trajetória etiológica única envolvendo diferentes graus de cada um dos fatores etiológicos.
Além disso, é consenso a dificuldade de chegar até esse diagnóstico e a variedade de fatores que afetam o tempo necessário para a melhoria dos sintomas uma vez que iniciado o tratamento. Porém, mediante tratamentos mais modernos e adequados disponíveis atualmente, pacientes diagnosticados vêm apresentando melhorias na qualidade de vida. O segredo está em fazer psicoterapia além do uso dos medicamentos indicados pelos médicos psiquiatras, pois auxiliará no controle das emoções negativas e aprenderá como agir nos momentos de maior estresse. Por isso a importância do suporte aos pacientes e também aos seus familiares, para serem amparados e recebam suporte apropriado durante esse período.