Por Alana Águida Berti
As crianças trazem dentro de si as experiências que vivem em sua rotina, seja em casa, seja na escola, seja em qualquer outro lugar pelo qual transita. E essas experiências são refletidas no seu modo de ser e em seu comportamento.
Assim, é de suma importância que os professores estejam atentos às respostas de seus alunos no dia a dia escolar, por mais difícil que seja diante das sérias e reais dificuldades enfrentadas em sala de aula, como grande número de alunos, os casos de indisciplina, dentre tantas outras atribuições. Essas respostas vão desde a desatenção do aluno, desinteresse pelo conteúdo repassado, sua falta de iniciativa e de participação nos trabalhos grupais, e tantas outras maneiras.
Em uma das aulas de Artes para o 3º ano do Ensino Fundamental I em uma escola pública rural do estado de Santa Catarina, propus aos alunos que realizassem a atividade do ‘desenho cego’, que consiste em fechar os olhos e deixar que a mão faça traços e riscos livremente. Depois, as crianças devem buscar identificar imagens ou figuras nesse ‘rabisco’ e destacá-las do modo como quiserem: colorindo, reforçando o contorno, etc.
Em geral, essa atividade é apreciada pela maioria dos alunos. É interessante pois, vencido o medo da ‘liberdade’ e do desconhecido, sentem satisfação com a descoberta das imagens ocultas entre as linhas.
Em seguida, peço aos alunos que compartilhem seus achados com a turma, a fim de compartilhar suas produções ao mesmo tempo que conhecem as produções dos demais. Todos ganham com essa experiência, inclusive e especialmente o professor.
Nessa ocasião em particular, um menino ‘apenas’ riscou muito e muito forte a folha de papel, quase não havendo espaços e imagens, parecendo à primeira vista algo irreconhecível. Indagado, disse que seu desenho era uma tempestade, o que fazia muito sentido dado o quão sombrio e escuro estava.
Ao comentar o fato com a professora orientadora, por ser um aluno que raramente interagia durante as aulas, a mesma contou que ele convivia em uma família problemática com pais separados e novamente casados, pouco participativos na escola.
Seu desenho ‘cego’ se tornou ainda mais significativo após essa história, pois elucidou um trauma, uma grande dificuldade trazida consigo em sua tão pequena existência, aflorado durante a realização de uma atividade rotineira da escola.