Por Maria Helena Bessa Barros Durau
Quando passamos por momentos difíceis em nossas vidas em razão de doenças físicas, problemas emocionais ou de relacionamentos, é natural buscar auxílio em diversos recursos externos. Esperamos e ansiamos por algo que nos alivie imediatamente, sonhamos com um milagre em nossas vidas, só desejamos estarmos bem. Nesse ímpeto, por vezes apenas olhamos para fora, para outras pessoas e outras situações, e quase automaticamente deslocamos a eles toda a responsabilidade acerca do nosso sofrer.
Nessa perspectiva, nos direcionamos somente para o que está fora: tanto a causa quanto a solução. E essa dinâmica leva para um lugar de passividade em que toda a melhora não vem de nós, os outros precisam mudar algo ou nos trazer algo que amenize (e, preferencialmente, finde) nosso sofrimento. Isso pode ser visto nas pessoas que atribuem todo o seu mal-estar e as condições que vive às atitudes do outro. ‘Ah, ele(a) me fez isso’, ‘fui injustiçado (a)’ e ‘ele(a) me faz passar por todo esse sofrimento’ são exemplos de falas muito comuns.
De fato, a relação com um sujeito, ambiente ou contexto afetam nocivamente ambas as partes quando em desequilíbrio. A problemática está em quando se espera que o outro traga a paz necessária e a solução mágica dos seus problemas, transformando o ambiente e para que se sinta aliviado(a). Desse modo, se estabelece um ciclo perverso de dor onde o sujeito assume silenciosamente o quão vítima é, desejando vingança ao outro pelo que teria cometido, e somente isso pode aliviá-lo. Em alguns momentos o alívio vem, porém, é fugaz. Então, há um retorno à necessidade de ainda mais alívio, pois o sofrimento se molda de forma permanecer constantemente vívido e crescente.
Mas como quebrar este ciclo? A grande chave está em fechar os olhos para fora e abrir os olhos para dentro de si. A partir desta postura, vasculhe e perscrute seu coração e sua alma para começar a responder à pergunta interior: qual a sua parte na responsabilidade pelo que você está sofrendo? O que cabe a si nesse processo?
Olhar para si, em primeiro lugar, aos próprios sentimentos, percepções e transferências de expectativas requer coragem. Suas falhas e fraquezas eventualmente ofuscaram seus olhos, obnubilarão a consciência e incitará a fugir do que é visto. Mas este confronto é difícil, não perverso. Adentrar tão visceralmente nas estruturas que sustentam suas sombras é uma tarefa de autoconhecimento, e defrontar-se com as dores mais primais é o passo inicial para a sua libertação. É, enfim, a possibilidade de pedir o atendimento da necessidade primeva não atendida e desligada da consciência.
Está aí o movimento de cura: olhar, reconhecer e libertar. Uma dor reconhecida é uma dor curada, e isto só é possível se movendo para dentro, para enfim encontrar o que cura.