A escola como facilitadora da superação de traumas na infância

Por Jeane Galhoti

A infância, período de crescimento que se estende do nascimento à puberdade, ou seja, do zero aos doze anos incompletos, configura-se em uma etapa primordial no desenvolvimento da criança. Esse período pode ser marcado por inúmeros acontecimentos que se convertem em traumas com marcas profundas, repercutindo na evolução cognitiva, emocional e social. As situações traumáticas advêm de fatores como perdas, incompreensão, abandono, doenças, medos, violência física, sexual, verbal, dentre outras situações que não priorizam nem garantem seus direitos estabelecidos nas legislações vigentes. Além disso, por mais que intentamos resguardá-las de circunstâncias traumáticas, nem sempre é possível livrá-las de tais experiências, sobretudo durante a pandemia de COVID-19. Cada criança reage diferentemente frente a situações desconfortantes, ainda que possam ter passado por experiências análogas.

Diante desse cenário, por vezes seus comportamentos são categorizados como indisciplina, timidez, dificuldade de concentração e déficit de aprendizagem, sem sequer considerar ou compreender seu real motivo, que também podem ser resultantes de situações traumáticas e nem sempre terão condições de resolver por si só.

Para favorecer a criança vítima de traumas, é necessário realizar um atendimento especializado como o de um psicólogo, terapeuta ocupacional e/ou psicopedagogo. Quando não há necessidade desse apoio, o cotidiano escolar se configura em um espaço privilegiado, com vistas a amenizar e até curar as dores do corpo e alma. Quando é acolhedor, afetuoso e dinâmico, é pautado por um relacionamento que valoriza o respeito mútuo entre professor e aluno, aluno e professor e entre aluno e aluno, considerando as especificidades, fragilidades e potencialidades de cada um. Ao se sentir valorizada, estimulada, assistida, com vez e voz, a criança adquire confiança para falar, agir e, muitas vezes, chorar no seu próprio tempo, e percebe em seus pares e no espaço de convivência a confiança, participação e construção de saberes e atitudes pautadas na empatia e solidariedade.

Quando isso ocorre, se desnuda das dores e inquietações para assumir uma postura de participação e ação, ainda que com os altos e baixos típicos dessa transmutação, pois se trata de uma passagem que pode ocorrer em um processo lento e delicado. E as atividades lúdicas auxiliam sobremaneira essa transição, bem como as histórias lidas e contadas no cotidiano escolar, ao conversarem conosco e muitas vezes falarem direto ao coração.

Vale ainda mencionar que a linguagem, quer seja falada, escrita, dramatizada, pictórica, constitui-se em uma importante ferramenta para o aluno manifestar tanto suas inquietações tanto quanto suas conquistas, pois, como discursou Toni Morrison no recebimento do Prêmio Nobel em 1993, “só a linguagem nos protege do horror das coisas indizíveis”.

Que tenhamos a graça de, ao viver a comunhão, tocar e transformar a dor de nossos alunos e indicar luzes e esperanças nesse caminho que escolhemos trilhar.

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