Por Débora Pereira do Nascimento
O ser humano possui capacidade de sobrevoar amplamente, idealizado por exigências pessoais e interpessoais. Suas capacidades de realizações transcendem aos limites da imaginação dos seres dos séculos anteriores. No entanto, este mesmo ser que por uns é considerado um semideus, também teve a possibilidade de reconhecer sua finitude diante da crise pandêmica. Enquanto projetava, inventava, fornecia, ambicionava e mobilizava seus desejos em rapidez, surpreendentemente surgiu uma pandemia mundial.
Reagimos a este acontecimento com isolamento social, envolvido nos cuidados pessoais e interpessoais. Inúmeras situações emergenciais foram elaboradas e implantadas com critérios protetivos para a prevenção da vida.
O cérebro reage diferentemente aos acontecimentos diários. Cada um tem critérios de enfrentamentos diferenciados, por vezes baseados em suas histórias de vida. Sabe-se que eventos estressores que surgem muito cedo, como abuso ou violência infantil, podem impactar negativamente em todo o organismo de modo a desenvolver doenças psiquiátricas.
Diante dos informes científicos, podemos compreender que os acontecimentos traumáticos outrora ou recentes obtêm o poder de aprisionar indivíduos. Peter Levine, em seus estudos, afirmou que o trauma é uma resposta do sistema nervoso e não tem origem no evento. Já Sigmund Freud disse que o trauma é uma barreira protetora contra a superestimulação que acarreta sentimentos avassaladores de impotência, frequentemente vistos como um estado de severo medo quando confrontados com um evento repentino, inesperado e potencialmente ameaçador à vida, no qual não temos controle.
Indivíduos diante da crise podem ser perseguidos por crenças limitantes como ‘não posso’, ‘não consigo’, ‘não venço’ ou outras similares, impossibilitando a expansão criativa do ser. É óbvio que, nesta pandemia, surgem novas possibilidades de existir. Exige-se mentes libertas para reagir ao caos, oriundo de um mundo que parou. Portanto, o cérebro cuidado possibilita ações eficazes.
Os neurônios, fundamentais na construção e no desenvolvimento mental, necessitam criar novas conexões e serem preservados para funcionarem positivamente em situações emergenciais. Um estudo publicado na Revista Veja informa haver, no cérebro, uma ‘área de trabalho mental’ e uma rede de neurônios que trabalha com imagens, símbolos e teorias, além de permitir o foco mental necessário para resolver e ter novas ideias.
A EMDR, aliada à neurociência, produz no cérebro um verdadeiro metabolismo de funcionalidade de saúde emocional. Os estímulos bilaterais visuais, tátil e auditivo produzem uma reação positiva nos hemisférios direito e esquerdo no cérebro, e as imagens disfuncionais dos conteúdos dos eventos diários que não puderam ser processadas naturalmente no sono REM são diluídas, dessensibilizadas em seu aspecto eletroquímico, processadas e armazenadas na memória de longo prazo. Assim sendo, o que deveria estar no passado, depois da dessensibilização e reprocessamento, flui ao ‘arquivo’ cerebral sem conteúdo perturbador.
Pessoas criativas se inclinam a inovações e suas ideias primitivas resolvem problemas em meio às situações caóticas. E, diante de questões emergentes, costumam apresentar soluções a fenômenos percebidos, pois o cérebro aflora em otimismo e esperança de melhores dias.
É evidente que um ser humano potencialmente saudável pode desfrutar da capacidade cerebral de ser criativo, independentemente das circunstâncias provindas do meio. Mas também é possível afirmar que a criatividade é um conjunto de capacidades que permitem se comportar de modos novos e adaptativos em determinados contextos. E, além de saber como e quando a usar, também necessitamos compreendê-la e desejá-la. Nesse sentido, a produção de conhecimentos diverge da inteligência, que pode ser vista como a aptidão de raciocinar e aprender.
Pessoas tratadas são inclinadas ao relaxamento saudável. Segundo a neurociência, o momento criativo surge quando o cérebro está descontraído; o dormir, o lazer e a descontração são vitais para nossas percepções. E, na atualidade, o poder criativo deve estar presente nos desejos dos sujeitos, cuja inteligência emocional contribui para grandes execuções em um mundo novo.
REFERÊNCIAS:
FRANCO, A. S. Ciências & Cognição Reflexões sobre o conceito de criatividade: sua relação com a biologia de conhecer. v. 14 n. 3. Rio de Janeiro. Nov, 2009.
GRAND, D. Cura Emocional em Velocidade Máxima. Brasília: EMDR Treinamento e Consultoria Ltda, 2013.
MOUCHIROUD, C; LUBART, T. Social creativity: A cross-sectional study of 6-to 11-year-old children. International Journal of Behavioral Development, v. 26, n. 1, p. 60-69, 2002.