Natureza como fonte de cura

Metal singing bowl for relaxing and receiving healing vibrations

Por Dione Navarro

“Você vive outro tipo de realidade quando cresce lá fora, no meio da floresta, ao lado dos pequenos esquilos e das grandes corujas. Todas essas coisas ao seu redor, como presenças, representam forças, poderes e possibilidades mágicas de vida que, embora não sejam suas, fazem parte da vida e lhe franqueiam o caminho da vida. Então você descobre tudo isso ecoando em você, porque você é também natureza.”

É essa mesma natureza que acompanha o homem desde os primórdios da história que tem sido a ferramenta disponível na busca pelo alívio de seus males físicos e emocionais. Inserido nesse contexto, encontramos xamãs, feiticeiros, pajés, curandeiros que tinham o mesmo propósito: curar enfermidades físicas e mentais. No seu arcabouço terapêutico tradicional, etnias indígenas como os yanomamis usam de roupagens místicas e rituais para limpar energeticamente um sítio antes da instalação de uma aldeia. Essa ação traz alívio às doenças provocadas por maus espíritos, reversões no equilíbrio do cosmos e epidemias causadas pela fumaça das queimadas causadas pelos homens brancos, onde espíritos canibais devoram a energia vital e adoecem fisicamente, podendo causar descompensações psíquicas.  Sem possuir o menor conhecimento sobre neurolinguística, alguns povos indígenas, através de seus pajés, buscam afastar enfermidades que creem serem causadas por maus espíritos maus mediante diretivas de injúria e vingança enviadas aos inimigos intrusos, que desejam devorar principalmente as almas das crianças.

Transitando por inusitadas sugestões e recomendações ambivalentes, alguns pajés realizam benzimentos naqueles que se encontram em ‘estados tabu’, como  recém-nascidos, rapazes em suas cerimônias de iniciação e mulheres em período menstrual e pós-parto, uma vez que se encontram mais suscetíveis a provocações espirituais que podem despertar conflitos e desejos proibidos. Somente os benzimentos poderão diminuir esses sintomas obsessivos e fazê-los resistir às tentações.

O uso de plantas que alteram o estado de consciência é tão antigo quanto a própria civilização. Os primeiros registros da ayahuasca envolvem indígenas que habitam a floresta amazônica e a utilizam para fins mágico-religiosos e terapêuticos. Cientificamente chamada  Banisteriopisis caapi, seus cipós são ricos em beta carbolinas: harmina, harmalina e tetra-hidroarmina, inibidoras de IMAO, classe de fármacos usados no tratamento da  depressão, preferencialmente a IMAO-A. Por isso, são capazes de aumentar os níveis de serotonina na fenda sináptica, que, semelhantes à serotonina, promovem efeitos sedativos primários quando usadas via oral. Segundo alguns autores, devido à sua composição fitoquímica, também é plausível que a ayahuasca tenha efeitos antidepressivos ou ansiolíticos.

 

REFERÊNCIAS:

TELLES, T, B. S. O potencial terapêutico da Ayashuasca na doença mental. Revista Cientifica Multidisciplinar, Ano 1, Ed.01, vol. 12, p.41-58, 2016.

VIDILLE, W. Práticas terapêuticas entre indígenas do Alto Rio Negro: reflexões teóricas. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2005.

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