Por Alana Águida Berti
Elisa começou a trabalhar cedo: mal completou dezoito anos, conseguiu um emprego em um escritório de contabilidade como secretária, embora não tivesse experiência. Trabalhava durante o dia e estudava à noite: no mesmo ano ingressava na faculdade. Tinha uma rotina corrida.
Estava feliz com o serviço, procurando bem desempenhar suas funções. Até que um dia, logo pela manhã, foi chamada pelo dono do escritório que lhe informou que seus serviços não eram mais necessários, estava em aviso prévio, podendo sair duas horas mais cedo. E já no dia seguinte, começou uma outra moça, amiga de outras funcionárias que havia sido demitida de seu emprego.
Fazer o quê? A vida continua.
Dois meses depois, Elisa foi contratada para uma nova vaga de secretária em um grande escritório. Desta vez tinha experiência, o que lhe ajudou muito. Decorridos aproximadamente dois anos, uma das assistentes saiu e ela foi promovida, aprendendo toda a rotina. Entretanto, essa assistente retornou algum tempo depois e voltou a ocupar o seu cargo, cabendo a Elisa ser sua assistente sem maiores explicações.
Terminando seus estudos, resolveu se estabelecer de forma autônoma, o que lhe garantiria mais flexibilidade de horário e independência, e assim trabalhou por anos.
Com toda a sua experiência profissional, aliada às especializações acadêmicas que fez, foi convidada a lecionar em uma instituição de ensino superior da rede particular, o que a deixou imensamente feliz, pois era uma excelente oportunidade de repassar seus conhecimentos. Como sempre foi ativa, passou a ocupar o cargo de coordenadora do curso alguns meses depois.
Elisa literalmente viveu para a instituição, pois o curso estava em processo de reconhecimento pelo Ministério da Cultura e Educação (MEC) e ela praticamente abandonou sua vida e sua família para dedicar-se a tão delicado e exigente procedimento, que ao final logrou aprovação. Porém, como vinha de uma rotina desgastante, enfrentou um problema de saúde que exigiu seu afastamento do trabalho por três meses, sendo nomeada uma colega para substituí-la.
Quando estava próxima a data de voltar, foi informada pelo coordenador geral que não precisava ter pressa, pois eis que a substituta estava indo muito bem e ficaria em seu lugar. Assim, Elisa entrou ‘em parafuso’ e precisou buscar ajuda médica especializada, entrando em um processo depressivo. Durante o tratamento, além da medicação, visitou seu passado profissional e constatou que o monstro do emprego privado sempre rondou sua vida e tinha, portanto, duas opções: continuar como autônoma ou passar em um concurso público, pois não aguentaria mais investidas assim.